terça-feira, 13 de julho de 2021

Projeto Cinema em Debate exibe filme sobre povo indígena potiguar em escolas do RN

Projeto leva filme sobre os povos indígenas potiguares para o ambiente escolar — Foto: Burnno Martins/Divulgação

O projeto Cinema em Debate abriu inscrições para que escolas do Rio Grande do Norte tenham acesso e exibam o filme potiguar "A Tradicional Família Brasileira – Katu”. Além de assistir à obra, os alunos das escolas interessadas terão um bate-papo gravado com os realizadores da produção e o protagonista.

O objetivo da iniciativa é provocar uma reflexão sobre a existência e a sobrevivência dos povos indígenas no Rio Grande do Norte e despertar o interesse pela arte cinematográfica produzida no estado.

As instituições de ensino interessadas devem acessar o formulário e preencher as informações. Feito isso, o acesso ao conteúdo já estará disponível.

O filme “A Tradicional Família Brasileira – KATU” tem roteiro e direção do fotógrafo Rodrigo Sena, e foi finalizado em janeiro de 2019. Ele parte de um ensaio fotográfico produzido no ano de 2007 em reconhecimento aos povos originários Potiguaras, retratando doze adolescentes pertencentes ao Eleutério do Katu, no RN.


Doze anos depois, o fotógrafo voltou ao Katu em busca desses protagonistas, hoje já adultos, para saber sobre suas trajetórias pessoais e suas visões de mundo. O diretor destaca a importância de levar o debate sobre o universo audiovisual e o povo indígena para o ambiente escolar.

No processo de desenvolvimento do filme, percebemos uma oportunidade de entendimento dos indígenas diferente do ponto de vista atual da sociedade mas contado pelos próprios Potiguaras do RN. Constatamos também, neste processo, o quanto somos impregnados de forma inconsciente pela percepção ancestral distorcida da identidade indígena", diz o diretor.

Cinema em Debate

Rodrigo Sena diz também que o Cinema em Debate terá continuidade com outros títulos. "O projeto traz para a sala de aula a possibilidade do debate através do cinema, numa tentativa de dar voz à resistência de um povo oprimido que sofreu diversas violências e ainda hoje continua resistindo, seja pela ameaça constante do agronegócio como também pelas ações de evangelização na aldeia", pontua.

"Acompanhando o avanço do audiovisual potiguar, o projeto começa com a exibição do filme 'A Tradicional Família Brasileira - Katu', mas continuará com outros títulos de filmes que trazem possibilidades de valorização e reflexão por meio dos seus diversos conteúdos”.


O cacique Luiz Katu, da comunidade indígena de Katu dos Eleotérios, relata a importância para o povo indígena de ter a sua voz ampliada pelo filme e pelo projeto.

“Participar das gravações desse filme e do projeto Cinema Debate para nós indígenas do RN, em especial para nós indígenas da aldeia Katu, tem sido um motivo de luta reforçado. A gente tem uma construção na luta da quebra da invisibilidade e consegue chegar em vários espaços, vários lares, chegar em locais de pessoas que nem imaginariam a nossa existência, a nossa resistência. Resistir para existir", diz.


O cacique relata, ainda, a importância das pessoas conhecerem a realidade e a resistência dos povos indígenas da aldeia Katu e do estado do Rio Grande do Norte.

"Nós estamos engajados nessa luta para quebrar a invisibilidade, quebrar os estereótipos, os preconceitos, a forma como as pessoas veem os indígenas, como se eles estivessem estagnados em 1500. E 'A Tradicional Família Brasileira - Katu' mostra uma realidade de um povo que luta para viver, que tem seus afazeres no seu dia a dia, mas que o seu sangue, a sua cultura e as suas memórias permanecem, e isso é realidade no filme", diz.

"E o Cinema Debate traz à tona esse questionamento, essa reflexão, essa provocação para todos aqueles que possam interagir por meio dessa ação que é de suma importância. Refletir, fazer uma releitura do que está posto e questionar a historiografia oficial, esse é o grande propósito. Espero que o projeto alcance o seu público-alvo que são os professores, alunos e o também o público em geral".

O filme

O filme narra um recorte do desdobramento da vida dos jovens do povoado do Eleotério do Katu, localizado entre os municípios de Canguaretama e Goianinha - que possui a única escola indígena do RN. Através deles, a obra aborda histórias coletivas abrangentes, que transpassam suas trajetórias individuais na comunidade indígena, ressaltando a questão da herança cultural e étnica desses povos.

A tradicional Família Brasil - Katu, filme potiguar RN de Rodrigo Sena — Foto:Divulgação/Trailer

A intenção do filme é valorizar as narrativas orais e as memórias dos excluídos, trazendo maior luz à reconstrução da história marginal dessas comunidades. O que se pretende é compreender como tem sido a reconstrução social e sobrevivência dos povos indígenas no RN.

Idealização

Segundo os idealizadores, por muito tempo, a sobrevivência de comunidades indígenas em terras potiguares não foi devidamente registrada. Segundo parte da historiografia documental e dados da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), estados como o RN não apresentariam comunidades indígenas nos dias atuais, pois elas teriam sido dizimadas em epidemias e guerras de extermínio ainda no período colonial.

Além disso, historiadores apontavam o "desaparecimento étnico" dessas populações em virtude da mestiçagem dos índios com outros grupos locais, que teriam sido reconfigurados como “caboclos” e “pardos”.

Essa ideia prevaleceu em quase todo o século XX e, somente na década de 1990, a presença indígena voltou a ser consignada no estado, fruto de um reavivamento político em torno do reconhecimento de sua identidade e da posse de suas terras.

Esse movimento ganhou força por volta de 2005, quando pesquisadores integrados a instituições públicas, museus e universidades passaram a visitar e entrevistar comunidades residentes no interior do estado, que se engajaram em movimentos de autoafirmação dos povos indígenas.

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