quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Lei Municipal Lei Nº 379, de 22/12/2008: Criação do Distrito de Pipa, no Município de Tibau do Sul


LEI MUNICIPAL N° 379, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2008.

Dispõe sobre a criação do Distrito da Praia da Pipa e outras determinações.

O PREFEITO MUNICIPAL DE TIBAU DO SUL - ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, no uso das atribuições legais e constitucionais que lhe conferem a Lei Orgânica Municipal e a Constituição Federal do Brasil, faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1° - Fica criado o Distrito de Pipa no âmbito do Município de Tibau do Sul. 

Art. 2° O Distrito de Pipa compreenderá e será integrado por toda área urbanizada, hoje, conhecida como Praia da Pipa, localizada no Município de Tibau do Sul. 

Art. 3° - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Revogando-se as disposições em contrário.

Valmir José da Costa
Prefeito Municipal 

domingo, 15 de novembro de 2015

Os primeiros habitantes do território potiguar

Por Carlos Noronha


A história do Rio Grande do Norte não se inicia com a chegada dos europeus.

Essa história tem início muito antes, porém ainda não temos certeza de quando precisamente.
Para sabermos desde quando o território potiguar é ocupado por seres humanos, muitos estudos e pesquisas têm sido feitos. Para tanto, são usados, principalmente vestígios deixados por essas pessoas, como pontas de flechas, pinturas rupestres e até mesmo esqueletos.
Com relação à presença dos primeiros seres humanos no Brasil, há uma grande controvérsia. A ocupação de terras brasileiras ocorreu entre 9.000 e 11.300 anos, segundo alguns estudiosos. Outros defendem uma data ainda mais remota.
A área correspondente ao Nordeste do Brasil foi ocupada por grupos de caçadores que se estabeleceram próximos aos rios e fontes de água, adaptando-se, dessa maneira, às difíceis condições do Sertão. 

Essa ocupação havia se consolidado há doze mil anos nos atuais estados da Bahia e Piauí 
As datas mais antigas que marcam a presença humana no Rio Grande do Norte foram registradas na região do Seridó, mais exatamente nos Sítios Pedra do Alexandre (9.400 anos atrás), em Carnaúba dos Dantas e Mirador, em Parelhas (9.410 anos atrás), com pinturas rupestres.
Nessa fase habitavam o território norte-riograndense animais atualmente extintos como os tigres dentes-de-sabre, os mastodontes e os tatus gigantes. 

Os registros rupestres são um forte indicativo da presença humana no Rio Grande do Norte, em especial no que se refere à evolução das manifestações artísticas. As gravuras e pinturas estão agrupadas em tradições. No Nordeste brasileiro – e também no território potiguar – existem, pelo menos, três grandes tradições: Itaquatiara, Nordeste e Agreste. 

A Tradição Itaquatiara – ou das Itaquatiaras – surge em blocos ou rochas ao lado dos cursos d’água e por vezes, em contato com esta, englobando gravuras executadas sobre a rocha. No Rio Grande do Norte há um grande número de sítios dessa tradição, em particular na região do Seridó. 
A Tradição Nordeste é caracterizada por meio de figuras de pequeno tamanho, com enfeites, símbolos e adornos, os quais identificam o ser humano dentro de um contexto social cheio de danças, lutas e caças.

A Tradição Agreste traz pinturas de técnica gráfica menos rica do que a Tradição Nordeste, inferioridade também observada nos temas. Um exemplo de um sítio dessa tradição é o Lajedo da Soledade, em Apodi. 

A existência das três principais tradições culturais de Arte Rupestre do Nordeste no nosso Estado reforça a ideia que o seu território foi habitado por inúmeras levas de seres humanos, em épocas diversas. 
Esse povoamento, realizado por vários grupos humanos, originou as nações indígenas que os cronistas portugueses e holandeses tomaram conhecimento. 
Como podemos perceber, quando os portugueses chegaram ao Rio Grande do Norte, em 1501, nosso território possuía já muita história.
Os povos indígenas que habitavam o território norte-riograndense eram descendentes desses habitantes mais antigos.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Terço dos Paulistas no Rio Grande do Norte

A força de trabalho dos indígenas potiguares e o Terço dos Paulistas. Desde o descobrimento do Brasil que os europeus mantiveram contatos diretos com os índios, utilizando-os como mão-de-obra na coleta do pau-brasil e noutras atividades de interesse econômico. E mais tarde, foram utilizados nas lavouras e fazendas de gado como força de trabalho.

Na verdade, os portugueses quando descobriram o Brasil já tinham a intenção de escravizar os nativos. Mas os índios reagiram contra a escravidão. Eles não poderiam nunca ser escravos em virtude de sua cultura e de seus hábitos de caça e pesca que lhes davam uma vida de liberdade.

No Rio Grande do Norte, antes do negro ser escravo, os indígenas foram os primeiros escravos, mas esse cativeiro não durou muito tempo. O chamado Terço dos Paulistas era um grupo de homens formado em São Paulo para penetrar nos sertões, visando escravizar os índios. Esse Terço esteve no Rio Grande do Norte no período de 1688 a 1724. Passaram pelo Seridó, onde hoje se encontra o município de Currais Novos e nas terras em que hoje está encravado o município do Assú.

Em Currais Novos e Assu, o Terço dos Paulistas matou milhares de índios. Embora os índios Paicus (ou Paiacus) fossem Cariris, também, eles viviam em clima de rivalidade, brigando pela posse de melhores terras para a caça e pesca. Os Paicus e Cariris viviam em guerra desde o século XVII. Esse conflito sangrento entre eles foi denominado de Confederação dos Cariris. O Terço dos Paulistas aproveitou o litígio existente entre eles, ficando ao lado dos Paicus e atiçando massacre contra os Cariris.

Por ter participado diretamente da guerra entre Paicus e Cariris, o Terço dos Paulistas, obedecendo à determinação superior, voltou a São Paulo, deixando os “senhores de terras” insatisfeitos, porque estes eram a favor da permanência dessa organização no Rio Grande do Norte.

Em 1720, houve o último levante geral. O governador da Capitania, o capitão-mor, Luís Ferreira Freire foi enérgico, utilizando o Terço dos Paulistas, sob o comando de Morais Navarro, dispersou a indiada. Morreram muitos índios. Foi um grande extermínio.

Muitos homens do terço dos Paulistas permaneceram no Rio Grande do Norte desenvolvendo atividades econômicas como a de agricultura e fazendeiro. Por exemplo, o sargento-mor José Morais Navarro, natural de São Paulo, radicou-se no sítio Curralinho da praia da Ribeira do Assú, perto da Lagoa chamada Pendências. Sendo considerado o primeiro proprietário do atual município de Pendências. Em Assú existe a comunidade rural, próximo a Lagoa do Piató, denominada de Paulista. 

Fonte: Livro Evolução Econômica do Rio Grande do Norte – Século XVI ao XX – de Paulo Pereira dos Santos.
 
Centro Histórico-Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi  -http://chctpla.blogspot.com.br/2014/08/chctpla-fatos-da-historia.html

sábado, 3 de outubro de 2015

Felipe Guerra: A origem do Sítio Passagem Funda


O sitio Passagem Funda, teve no paraibano Domingos Alves Ferreira Cavalcante, o seu primeiro povoador, tendo ele chegado por volta do ano de 1780, através de convite que lhe foi feito pelo seu primo Capitão Leandro Bezerra Cavalcante, pernambucano do cabo fundador de Caraúbas/RN, Leandro era casado com Britis Lins de Vasconcelos, falecida no dia 18 de dezembro de 1791, este Domingos Alves Ferreira Cavalcante, era tão importante para se der uma idéia, ele tinha dois irmãos que participaram ativamente da Revolução de 1817 do Rio Grande do Norte, os senhores capitão Antonio Alves Ferreira Cavalcante, capitão do regime de cavalaria da Vila de Portalegre, e Manuel Januário Bezerra do Cavalcante que foi preso e depois anistiado em 1821, estes dois revolucionários tinham contato direto com os também revolucionário da Vila de Apodi, poucos sabem mas todos aqueles que trazem o sobrenome familiar Cavalcante em Felipe Guerra, Apodi e Região descende do patriarca Domingos Alves Ferreira Cavalcante que faleceu no Sitio Passagem Funda no dia 20 de outubro de 1830, segundos os pesquisadores é que a enorme casa daquele sitio foi edificada, no ano de 1800, com recurso próprio de Domingos, ele tinha também um outro irmão, que era Capitão e tinha muita atuação na cidade de Açu, era José Joaquin Bezerra Cavalcante nascido na Paraíba no ano de 1777 e faleceu em Açu em 1859. (Fontes: Borges da Fonseca e Marcos Pinto)

O sitio Passagem Funda foi o primeiro núcleo estradeiro do município de Apodi, surgiu como local de repouso e abrigo para os comboieiros que descia a região do alto oeste com destino a Mossoró, para aonde levava algodão e voltava carregado com sal e outro gêneros mercantis até o ano de 1949, ligava as ares povoada do interior ao efervescente comercio de Mossoró, o trajeto dessa estrada começando do apodi seguindo pela várzea até o sitio Passagem Funda, e depois Mossoró atravessava-se o rio em vinte lugares distintos. O Sitio Passagem Funda é um ameno recanto protegido por Íngremes, capas da serra que proporcionava a improvisação de estabelecimento coraleiro para o descanso das caravanas comercias os conhecido comboios que viajavam rumo a Mossoró, formando ali trafego intenso de mercadoria, varias ao fluxo comercial, acresceu-se a chegada de povoadores. Nas abordagens históricas empreendidas em antigos inventários encontra-se o inventario dói patriarca da família Cavalcante, Domingos Alves Ferreira Cavalcante, que era casado com Maria Joana, e a mesma faleceu no Sitio Passagem Funda no dia 6 de junho de 1862, deixando os seguintes filhos: Maria Clara Alves Bezerra Cavalcante, Francisco Alexandrina Ferreira Cavalcante e Domingos Ferreira Cavalcante Junior, Manoela, João Regis Cavalcante, José Alves Cavalcante, Maria , Antonia e Antonio, Tristão e Maria Ângela. A matriarca Agostinha Donato de Souza faleceu no sitio Passagem Funda em dezembro de 1889 aos 33 anos de idade, e era filha de Bonifácio José Ferreira Cavalcante, Idonata Marques de cena, e era casada com o senhor Leonardo Bezerra Cavalcante e foram pais de José que nasceu em 1882, Antonio que nasceu em 1886, e Antonio que nasceu em 1885, Izolina Rita Cavalcante que é a mesma Izolina Bezerra Cavalcante, Casou com o senhor José Raimundo de Souza, que foi o pai do senhor Julio Cavalcante ex-vereador e auditor Fiscal, que era casado Alicia Elzida de Góis. (Fonte: Marcos Pinto)

A FUNDAÇÃO DA IGREJA


Depois da morte de Domingos Alves Cavalcante em 1830, houve a partilha de bens pelos seus familiares, e Paulo Alves Januário adquiriu essas ditas terras, mas por volta de 1844 Pedro José Barra, cassou-se com Maria eduwirgem e compraram a propriedade de Paulo Alves Januário o Sitio Passagem Funda, e lá estalaram sua residência e sua atividade agrícola, e nasceram deste casal, Maria eduwirgem Filha e Maria da conceição Barra, Josefa da Conceição Barra, Pedro José de Souza, Geraldo de Souza Barra, Sebastiana Eduwirgem de Souza e Antonia Mafalda do Patrocínio, em 1881 faleceu Pedro José Barra, Casou três anos depois a sua viúva com o irmão do seu falecido marido André de Souza Barra, e deste matrimonio nasceram dois filhos, Paulo Carlos Barra e Maria da Conceição Barra. No ano de 1901 Maria de Souza Barra doava a São Pedro padroeiro do lugar dois terrenos no Sitio Passagem Funda, onde foi de pronto edificado a capela e outro terreno de carnaubal no Sitio São Gonzalo, como fonte de renda da igreja de São Pedro no Sitio Passagem Funda, passado alguns anos em 1913 foram trocado as imagens de São Pedro e São Paula e Nossa Senhora de Lurdes, essas imagens foram transportada nas cabeças dos fieis de Mossoró até o local da capela em festejos em todo o percurso pelos habitantes a margem da estrada.

Inventário de DOMINGOS ALVES FERREIRA CAVALCANTE - 1830.

Casado com Maria Joana do Espírito Santo. Pais de:

1. Maria Clara c.c. Vicente Ferreira Pinto Júnior

2. Francisca Bezerra c.c. José Joaquim Bezerra Cava

lcanti Júnior

3. Domingos, 19 anos

4. Manuela, 17 anos

5. Antonio, 16 anos

6. João, 14 anos

7. José, 13 anos

8. Mariana, 10 anos

9. Antonia, 8 anos

10. Tristão, 5 anos

11. Maria, 3 anos

Obs.: o inventário foi feito na Vila da Princesa, mas encontra-se em Apodi.
Fonte: Marcos Antonio Figueira

Por Geraldo Fernandes 

Repercussão da Confederação do Equador no Rio Grande do Norte

Por Carlos Noronha

Confederação do Equador - foto-reprodução

Manuel Teixeira Barbosa assumiu o governo no Rio Grande do Norte em um momento difícil. Os 
rebeldes da Insurreição de 1817 eram ainda admirados. Eles, entretanto, estavam divididos. Alguns apoiavam o imperador e outros eram favoráveis à Confederação.
Teixeira Barbosa, inseguro, passou a dar expediente no Quartel da Tropa de Linha esperando ansioso por seu substituto Tomás de Araújo. 
Tomás de Araújo foi nomeado presidente da província em 25 de novembro de 1823 e assumiu o governo em 5 de maio de 1824.

As facções em luta na Paraíba e em Pernambuco procuravam o apoio do Rio Grande do Norte. Pais de Andrade enviou, inclusive, correspondência para o governante norte-riograndense. 
Tomás de Araújo agiu com cautela, preocupado em evitar uma guerra civil em sua província, enviando, inclusive, uma delegação para Recife. 

A delegação potiguar, depois de visitar a Paraíba, seguiu para Pernambuco. Em Recife assinou, com o governo de Pernambuco, uma concordata (6), em 3 de agosto de 1824, pela qual as duas províncias se uniram "numa liga fraternal ofensiva e defensiva", devendo entrar em vigor quando fosse assinada pelos governantes das duas províncias. Tomás de Araújo, tudo indica, não assinou o referido documento. 

Com a instalação do conflito, tropas favoráveis à Confederação do Equador vindas do sul da província se encaminhavam para Natal com o objetivo de levantar a bandeira republicana na capital norte-riograndense.
Diante de um possível confronto, Vicente Ferreira Nobre e Joaquim José da Costa são designados para defender a cidade do Natal.

Tomás de Araújo, para evitar o derramamento de sangue pediu demissão, entregando o governo ao presidente da Câmara, Lourenço José de Moraes Navarro, que dirigiu os destinos da província até 20 de janeiro de 1825. Navarro, por sua vez, passou o governo ao seu substituto legal, Manuel Teixeira Barbosa.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

E riem os mortais quando tropeçam os deuses

Por Marcos Pinto*

Foto-Reprodução

O contexto existencial humanos nos apresenta fatos que, analisados dentro de um prisma subjetivo, refundido e recolhido pela retentiva das versões, evidencia conotações expressionais, às vezes irônicas, às vezes asquerosas, acomodando peculiaridades verbais, partícipes e vivenciais. 

Não raro, encontramos pessoas que se deixam dominar pela força do poder de que são detentoras. Esquecidas do peremptório desfecho existencial, sobrepujam os mais humildes, aviltam inocentes, pisoteiam os fracos, debuxam perfis probos, sob a égide de um primarismo arrogante, de uma vaidade bocó. 

Personagens da sombra, apresentam posturas de inércia, orgulhos extremados, comumente utilizados como escudo invisível de suas exacerbantes incapacidades, de suas vaidades profundamente absurdas, tornando transparente a fealdade de seus egoísmos. 

Sem querer ferir princípios éticos nem suscetibilidades, são pessoas que, na versatilidade e abrangência dos fatos, habitam um mundo onírico e filosófico. Não raro, são viventes que o tempo se encarregará de deixá-los acomodados na faixa silente do esquecimento. Açodados na premência do tempo e na angústia do vício original da improbidade, incorrem na ânsia voraz de incorporá-la à história, maculando o território do passado remoto. 

Os afluentes da história extirpam da nosologia nacional incautos figurantes que ousam empunhar as armas da felonia e da perfídia, assumindo contornos de desalentos e perplexidades, no bojo do processo evocativo. 

Em nosso despretensioso entendimento, tornar-se imprescindível combatermos com intensidade essa forma de prurido de mando que permeia entre nós, atingindo no cerne a vaidade que peculiariza os medíocres, a sandice que domina os incompetentes, não raro guindados a postos de chefia. 

Pseudodeuses – até vivem aparentemente satisfeitos dentro das couraças de suas estupidezes. Personalidades plurais, não permitem confronto de similaridades na sequência dos fatos. 

Na força do silêncio, escondem algo de sub-reptício nos escaninhos do mistério, evidenciando redutos degenerantes do parasitismo. 

Só uma arma detém a infalibilidade no combate aos que julgam donos da verdade, detentores da razão, filósofos da sabedoria: humildade diluída na abrangência dos fatos. A esses sacripantas resta a necessidade de serem colocados nos seus devidos lugares, ou seja, no anonimato e no nefasto reduto da pobreza espiritual. 

*Marcos Pinto é advogado e historiador

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Os Correios da linha da região Oeste no ano de 1900

Por Marcos Pinto

Os sertões da região Oeste potiguar apresentavam, no longínquo ano de 1900, um cenário desolador que inseria os seus desamparados e esquálidos habitantes numa completa desdita. As autoridades federais e estaduais pouco ou nada faziam para o amenizar o flagelo das secas que assolavam aquelas plagas, a maior algoz das almas sertanejas.

Imagine-se a verdadeira via-crucis enfrentada pelos estafetas daqueles remotos tempos, enfrentando sede e fome, para desempenharem mais ou menos a contento o trabalho de entregas de encomendas e correspondências. Configurava-se o dolente perfil de uma população desamparada, alheia ao surto do progresso dos grandes centros.

Vivia-se à míngua dos recursos científicos necessários à cura das infectas doenças, que proliferavam aliadas à condição miserável em que estavam condenados em suas passagens por esse longo roçado meio espinhoso da vida. Abordemos o tema que encima estas despretensiosas análises.

A Agência dos Correios e Telégrafos do Apodi foi inaugurada em 30 de Janeiro de 1907. Quanto às entregas de correspondências e encomendas, a linha do Apodi era servida por cinco estafetas (Carteiros). Atendiam pelos nomes de Luiz Carcará, João Viado, Manoel Umbelino, João Carneiro e Manoel Ricardo, este o mais antigo, posto que iniciara este ofício desde o ano de 1888.

Percorriam o trajeto à pé, com a mala às costas. Exerciam seus ofícios imbuídos de um indiferentismo pernicioso, sendo, por isso, objetos de reclamações gerais, restando observados pelos que habitavam as cidades,Vilas e paragens do roteiro da linha do Apodi, um completo relaxamento, dado a demora da entrega das correspondências e encomendas.

João Viado e Manuel Umbelino eram os dois estafetas validos, gozando das mesmas regalias dos colegas, posto que não esforçavam-se para o bom desempenho de seus cargos. O governo também era culpado do desprezo em que se achava este tão importante ramo do serviço público, remunerando pessimamente os estafetas.

Nenhum homem ganhava, àquela época, menos de sessenta mil réis mensais para desempenhar aquela função, isto de forma particular. Os estafetas, funcionários públicos que eram, percebiam apenas quarenta mil réis como remuneração mensal, recebidas estas remunerações no ano de 1913.

Como forma de potencializarem a concretização de um eventual pleito de aumento salarial, os estafetas pediam, cinicamente, aos Agentes dos Correios localizados que enchessem as guias de lama, catarro e quejandos, contanto que justificassem a sua marcha de cagados.

Os Agentes, em regra bonachões, satisfaziam o pedido. Postura que configurava o famoso pacto da mediocridade, que consistia em dispensar alguém de cumprir suas obrigações.

Um salário condizente com a árdua missão que estavam na obrigação de cumprir estimularia-os a viajarem mais apressados. Nenhum estafeta valido, naquele tempo,que fosse bem remunerado, recebendo a mala em Natal, oito dias depois a entregaria em Natal.

A estafante e crucial caminhado do estafeta seguia o roteiro oficial, percorrendo as distâncias e gastando o tempo necessário assim especificados: - De Natal à Jardim de Angicos - 22 léguas em um dia. – De Jardim de Angicos a Angicos – 15 léguas em dois dias. - De Angicos à Assu - 08 léguas em um dia. – De Assu à Mossoró - 18 léguas em dois dias. - De Mossoró a Apodi - 14 léguas em dois dias.

Estes traçados representativos das distâncias e do tempo necessário para percorrê- las, eram cumpridas por dois estafetas, um saindo de Natal tendo como parada final, ou seja, percorria 45 léguas em quatro dias, e o outro pegando do Assu à Pau dos Ferros, ponto terminal.

No entanto, a correspondência no remoto ano de 1913 chegou a demorar trinta dias, depois da saída de Natal, para chegar ao Apodi. Para respaldarem a demora, alegavam ter que cruzarem rios cheios, motivo improcedente, uma vez que todos os rios ofereciam rápido transporte.

Em 1913 o Major Manoel Moreira Dias exercia o cargo de Diretor Geral dos Correios no Rio Grande do Norte. Era um cidadão de integridade moral e social à toda prova. Com certeza, a demora dos estafetas devia-se atribuir aos percalços voluntários tais como bebedeiras e forrós, nas festas paroquiais das cidades e, vilarejos percorridos.

Os estafetas eram muito considerados em suas funções, posto que as notícias dos jornais que trazia de Natal, ligava o interior rude e desprovido dos sinais do progresso, à agitação reinante na capital do estado. Tempos árduos e difíceis.

Marcos Pinto é advogado e escritor

domingo, 2 de agosto de 2015

Notas sobre a passagem de Lampião por Antônio Martins

Por José Romero Cardoso e Marcela F. Lopes

Quando da formidável marcha do bando de Lampião pelas veredas do oeste potiguar, intuindo objetivo maior, qual fora, atacar Mossoró, na época já considerada a segunda cidade do estado do Rio Grande do Norte, nenhum lugarejo sofreu mais que a localidade de Boa Esperança (hoje município de Antônio Martins).

Em 12 de junho de 2015 estivemos visitando a aprazível cidade, quando constatamos que continuam vivas as marcas deixadas pelo sinistro bando, não obstante mais de oitenta anos assinalarem a verdadeira faina maldita que deixou sinais evidentes de que as tristes horas jamais se apagarão da memória da simpática gente, embora a maioria não estivesse presente naqueles fatídicos momentos de terror e apreensão, tendo em vista que os mais velhos se responsabilizam pela transmissão dos fatos verificados naquele longínquo ano de 1927.


Lampião e seu bando posa em Limoeiro do Norte (CE), após ataque a Mossoró (Foto: reprodução)

Conversando com pessoas do lugar, houve ênfase ao que literato como Raul Fernandes, em A marcha de Lampião: Assalto a Mossoró, imortalizou em letras garrafais, pois, transmitidas de geração a geração, as histórias da presença do bando de Lampião em Antônio Martins denotam a perpetuação da memória sobre os mais absurdos atos ignominiosos perpetrados pelo banditismo rural sertanejo contra a indefesa população do lugar.

Boa Esperança em seu bucólico cotidiano esperava a banda da vizinha cidade de Martins, pois aproximava-se a festa do padroeiro Santo Antônio. Ao invés dos acordes amistosos, executando músicas tradicionais e conhecidas, despontou célere o bando de Lampião.

O lugarejo passou a ser literalmente revolvido, com cangaceiros se apossando de tudo e de todos, destruindo tudo que encontravam pela frente e praticando atos deliberados de vandalismo.


Cidadão de nome Vicente Lira foi aprisionado quando chegava à cidade. Lampião em pessoa colocou-o na frente da alimária. Pisoteado nos pés pelo animal montado pelo rei do cangaço, Vicente Lira segurou firme nas rédeas. Lampião não gostou, tendo desferido diversas cutiladas do seu punhal de lâmina perfurante no desditado sertanejo. Escapou milagrosamente, tendo morrido de morte natural muitos anos depois.

Irmãos que há tempos não se falavam foram amarrados em formigueiro. Seresteiro descontraído teve o violão enfiado cabeça a dentro, ficando o mesmo como espécie de colarinho.

Melancias foram atiradas contra frágeis cabeças, enquanto pulos do gato foram ensaiados, os quais consistiam em atirar para cima infelizes criaturas, para que as mesmas conseguissem, sem sucesso, a mesma performance dos cangaceiros quando das lutas nas caatingas.

Conceituado cidadão de nome Augusto Nunes teve armazém depredado, queimado, destruído na expressão literal do termo. Prejuízo incalculável que colocou por terra anos de trabalho árduo.

A esposa deste, de nome Rosinha Novaes, era preparada para seguir o bando, como refém. Já estava em cima de um burro quando gritou desesperada que se fosse na terra dela aquilo não aconteceria.

Indagada sobre qual terra era natural, tendo respondido ter nascido em Floresta do Navio, berço de cangaceiros e coiteiros, pertencente ao ramo dos Novaes, prima de Emiliano Novaes, serviu de senha para que o suplício maldito terminasse.

Lampião, avisado por Sabino Gório sobre a presença de uma pessoa da família Novaes em Boa Esperança, deu por encerrada a sessão de horror perpetrada pelos cangaceiros contra aquele povo pacato e trabalhador.

Boa Esperança deveu muito a Dona Rosinha Novaes pelo fim do terrível sofrimento que foi imposto pelo bando de Lampião quando de sua passagem inglória pelo simpático lugarejo.

A memória da população está acesa no que diz respeito aos malditos momentos que seus antepassados passaram nas garras do bando de Lampião, pois é consenso geral as amarguras deixadas pela horda comandada pelo mais audacioso cangaceiro de todos os tempos.

José Romero Cardoso e Marcela F. Lopes são professores e escritores

Os safardanas

O contexto existencial humano se nos apresenta cheio de nuances que exigem decisões prontas, inesperadas, fulminantes, atrevidas, fruto de uma boa têmpera. A afirmativa encontra arrimo nas pessoas que apresentam sutis fatores comportamentais, que se espraiam sob todos os matizes psicológicos. Deleitam-se com a procissão dos conflitos, das preterições, dos desejos abafados – São os SAFARDANAS. 

Recebem os ataques com uma impassibilidade clássica. Servem-se da intimidade das relações existentes para detectar eventuais pontos fracos de sua próxima vítima. Cultivam íntimo prazer insidioso, o que os faz espécies de tênias morais. Como seres da sóbra, argumentam sob a tutela de insinuações, retidos por um sentimento de inferioridade que os impedem de reconhecerem-se a si mesmos. 

Há ainda a tenebrosa característica de que sempre fecham os olhos para a insânia, a injustiça, o sofrimento e a morte. Cometem crueldades pelo simples prazer, configurando patologia de portadores de PMD(Psicose maníaco-depressiva), digna de hospício. Geralmente esses Safardanas negaceiam. São sinistros e traiçoeiros. Passam pelas alegrias e tristezas envoltos numa indiferença doentia. 

Por essas pessoas poder-se-á afirmar que há na sociedade retrocessos atávicos notáveis, dado a conjuntura torturante e inconsequente da mais requintada selvageria – a arte de destruir os outros sob o manto do silêncio e da traição. Por isso impossibilita as suas vítimas de conceberem, sequer, a mais rudimentar tática de defesa. 

Ante os incautos, agem impulsivamente, numa irreprimível hipnos de destruição. Quando deparam-se com pessoas sagazes, atentas ao mais sutil de seus lances, fogem soltando imprecações de angústias e revoltas irrefreáveis. Não raro, tripudiam sobre as suas presas, posto que arquitetam um ataque adrede elaborado consoante as condições excepcionais do meio e do adversário. 

Ao leitor amigo forneço o antídoto a ser usado quando encontrar um Safardana. Lancem mão de uma arma invencível e avassaladora – a interrogação se o mesmo não é portador de “desconfiômetro”(espécie de instinto de dedução lógica) que inibia a iniciativa de insanos ataques a outros, que por sua vez detém insuperáveis arguições de contra-ataques. 

Confesso não encontrar no léxico opulento de nossa língua um termo lídimo de uma refrega que presencia entre um amigo e um safardana. Quedei-me obediente a essa inusitada fatalidade incoercível. Esses seres desprezíveis atacam, de preferência, pessoas rudes, em cujos ânimos combalidos penetram desalentos e incertezas, mobilizando-as. São pressas fáceis nos liames de seus assédios extravagantes. Atacam de inopino. Apreciam a farfalhice depreciativa dos bajuladores. 

Se eu fiz, um dia, o caminho do confronto com um safardana, fí-lo como os colegiais, sem atrevimentos. ele teve uma lata a mais, eu tive um inimigo oculto a menos. A convivência humana constitui um esboço com lances e movimentos grandes mais isolados, dispersos e dilacerados. É por isso que muitos se extraviaram em caminhos estéreis. Resignar-se e contemporizar a isso, seria uma deserção. 

Quando um SAFARDANA percebe que seu ocaso chega aceleradamente, diz coisas condenáveis e bem dignas de execração. Só a análise com acuidade tornará perceptível as manifestações misteriosas, procurando insistentemente impedir a trajetória natural de alguém que nasceu para o ápice do sucesso. 

Auscultando-se o isolamento em que esses larápios são relegados, poder-se-ia afirmar que lá ruge-se, geme-se, chora-se, soluça-se, ulula-se, blasfema-se, pragueja-se e mal-diz-se. 

Cuidado! Você poderá ser a próxima vítima de um desses terríveis eventos que a maldade tece, com aquela persistência que traz o selo da fatalidade. ALEA JACTA EST! 

Por Marcos Pinto - Historiador e advogado

domingo, 26 de julho de 2015

Desconfiômetros - Saibam quantos...



Dentre os princípios éticos e morais que regem as relações humanas, revela-se com maior precisão a modalidade instintiva denominada DESCONFIÔMETRO. Poder-se-á afirmar que tal mecanismo impede, não raro, a manifestação de pensamentos acintosos em relação ao interlocutor circunstante. 

O desconfiômetro proporciona extremada capacidade de discernimento, compatível com as variáveis da vida. Há, porém, casos em que paixões mais fortes nos arredam de teor comum na vida, neutralizando nossos afetos e produzindo ações avessas daquilo que fazia separar a maneira de pensar e sentir. Daí a importância de desconfiômetro, sem o qual predominariam a vingança e a ambição, cegando-nos, a ponto de lançar-nos em projetos opostos às nossas ideias e sentimentos. 

Nada mais irritante do que deparamo-nos com pessoas que não tem o dom de desconfiômetro. Em geral são de um primarismo arrogante, buscando por gosto os insultos, e por isso querendo precipitar-se do cume da distinção na geral insignificância.Têm compostura de molde a deixar visíveis os arranzéis de ataque pessoais. Animam-se à teimosias ante nossa capacidade de pontificar na vida em consonância com as deliberações preliminares oriundas da escola da vida. Ufanam o peito com ares de baiacus, instigando à rebeldia para depois deixar entregues (as suas vítimas) à própria sorte. 

Desconfio, caro leitor, quando encontrares essa virulenta espécie, arrotando pseudo competência, de forma bisonha e renitente. Tive o desprazer de encontrar este tipo de supra-sumo da boçalidade, o qual queria ganhar celebridade a expensas minhas, tendo por tal investida resvalado no ridículo o tal sacripanta. Não lhe dei resposta nem importância; E dou um aviso aos infelizes e asquerosos navegantes da boçalidade açodada pelas perfídias; Podem bramir, injuriar, vituperar, doestar, espumar de raiva fingida e paga. Não abrirei polêmica com os tais,até porque, por mais que se esbofem, nunca conseguirão rasgar brecha em minha inconfundível e inexpugnável e honrada trajetória de vida. Desculpem-me pelo auto-elogio mas São Paulo também assim o fez, por ocasião da segunda epístola aos Coríntios, Capítulo XI.

Aos que vierem com inquirições malsãs e maquiavélicos, faço a advertência de que até agora nem toquei a campainha para chamar os lacaios, nem bati castanholas aos cães de casa. Ladrem e cainhem; portanto, lá no pátio à vontade, que eu por cá me fico muito bem seguro de mim, e cada vez mais aferrado às minhas ideias. 

Sei que os encontrarei(os boçais) na estrada da vida. E para que esbravejem mais esses cainços e cada dia mais se mordem e remordam de impotente desespero, comunico-lhes que DEUS dotou-me de singular manancial de perspicácia para vislumbrar recônditas minudências. 

Ao leitor amigo a observação de que estas ideias não apenas as que alguns pensam em silêncio, e que eu prefiro pensar em voz alta. Se está errado, corrigir-se-á. Se está certo, tanto melhor, de um modo ou de outro, dizer a verdade às vezes aproveita, não propriamente a quem diz, mas especialmente a quem ouve. Aprendi isto na escola da vida. 

Por Marcos Pinto – historiador e advogado apodiense
19.03.1999

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Subsídios para a história dos municípios de Felipe Guerra e Caraúbas


08/07/1740 – Margarida de Freitas e sua irmã Antonia de Freitas Nogueira, filhas do fundador Manoel Nogueira Ferreira, recebem concessão de Carta de Datas e Sesmaria passada pelo Capitão-Mór do Rio Grande do Norte Francisco Xavier de Miranda Henrique, dando-lhes três léguas de terras de comprido e uma de largo na lagoa do Pacó entre o Boqueirão e o Apanha-PEIXE.

Por Marcos Pinto - historiador e advogado apodiense.

domingo, 5 de julho de 2015

II Guerra Mundial no RN

A importância de Natal na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) surge com veemência nas comemorações dos 60 anos do fim da mesma. A historiografia potiguar contribui com a discussão do tema ao incluir nele dois historiadores que vivenciaram, relataram e pensaram o período: Luís da Câmara Cascudo e Tarcísio Medeiros.

Vou trazer à tona os elementos e fatos analisados pelos dois historiadores, seja do ponto de vista geopolítico e antropológico como abordado por Tarcísio Medeiros (Mariz & Suassuna, 2002, p. 325), seja do ponto de vista dos relatos sociais, culturais e políticos tal quais enfatizados por Luís da Câmara Cascudo.

Luís da Câmara Cascudo em sua História da Cidade do Natal (1999), faz uma descrição minuciosa acerca da localização – datada historicamente – de Parnamirim. “O topônimo”, diz Cascudo, “está num mapa de Marcgrave, o Brasiliae geographica & hydrographica tabula nova” (p. 421). Única referência. O nome deve-se a um “tabuleiro entre colinas em meias-laranjas, com a lagoa que lhe deu nome” e já em 1927 torna-se um “campo de pouso para os aviões da Latecoère” (p. 421). Depois viria a Air France e a italiana “Ala Vitória”.


Cascudo atribui ao coronel Tavares Guerreiro a serventia aeronáutica de Parnamirim. Os norte-americanos e os alemães utilizavam hidro-aviões subindo e descendo na foz do rio Potengi. Parnamirim inicia sua notoriedade graças à presença de ilustres que pousavam e decolavam de seu campo (1999, p. 421).

Com a II Guerra Mundial e em 1942, com a construção de uma Base Aérea da Força Aérea Brasileira veio a “consagração universal”. Tinha funções de patrulha e vigilância. Ao mesmo tempo é instalada pelo almirante Ari Parreiras a Base Naval na área do Refoles. No auge da guerra, “fez içar o pavilhão nacional em oito destróiers escolta. E mais o dique flutuante Potiguar e a barca-oficina Potengi” (1999, p. 422).


Os americanos construíram em Parnamirim sua base. Segundo Cascudo,

pistas de dois mil metros facilitavam a descida imediata de 250 aviões. Mil e quinhentos edifícios abrigavam dez mil homens. Todos os serviços modernos, todos os recursos da técnica, possíveis ao gênio e ao dinheiro, estavam abundantemente acumulados em Parnamirim (1999, p. 422).

Relata também que o consumo de gasolina médio chegavam a cem mil litros diários, vindos de um “pipe line” a 20 quilômetros de distância, abastecidos, por sua vez, dos navios tanques do porto de Natal. Também, de fundamental importância, era a pista asfaltada (20 km) que ligava Natal a Parnamirim.

Para Cascudo, Parnamirim Field não teria sido concretizada sem a importante contribuição dos brasileiros locais. Estes se misturaram com os militares americanos e sua cooperação foi sempre lembrada pelos próprios americanos (1999, p. 423).

Para os potiguares tudo era novidade, “tudo era novo, enorme, e regular [sic], desde os caminhões de dezesseis rodas, com reboque, até os filmes novíssimos que passavam quinze meses antes da distribuição para o grande público” (CASCUDO, 1999, p. 423). A presença americana também foi sentida através dos infortúnios. Segundo Cascudo, mais de cem túmulos no Cemitério do Alecrim atestavam a luta contra o nazi-facismo.

Ao derredor do Campo, surgiu a Vila de Parnamirim, pobre e singela, mas com grupo escolar, luz elétrica, urbana. Era parte do município de Natal, então administrado pelo prefeito Sylvio Piza Pedroza.

Cascudo enfatiza a importância de Parnamirim apontando sua estratégica presença no Atlântico Sul. Para tanto cita o General norte-americano Charles Gerardt e o próprio presidente Franklin Delano Roosevelt para quem “a encruzilhada estratégica tão importante para a realização das campanhas do Norte da África e da Sicília” (1999, p. 424). Importantes na defesa de Natal, diz Cascudo, foram o general Cordeiro de Farias, o chefe de polícia local, André Fernandes de Sousa, Godofredo Rocha, chefe da Defesa Civil (1999, p. 425).

Natal inteira, localizada próxima a Base, foi preparada e organizada em todos os sentidos e áreas (naval, aérea, terrestre). Fizeram surgir “casas, estaleiros, cais de atracação e subida para os aviões anfíbios, armazéns, hospitais, cassinos” (Cascudo, 1999, p. 424). Na “Rampa da Limpa” atracavam os grandes 24 PBY, os hidroaviões patrulhas da USS Navy, os “Catalinas”, os bombardeios B-29 e os clippers de 75 passageiros . A cidade inteira vivia o clima de guerra. Os black-out eram constantes, os abrigos públicos contra bombardeios, os voluntários para todas as necessidades. (Cascudo, 1999, p. 425).


Tarcísio Medeiros num artigo em seu Estudos de História do Rio Grande do Norte(2001), enfatiza a importância da localização estratégica de Natal e do Rio Grande do Norte, assim como o do próprio Brasil, para o domínio estratégico e militar da costa do Atlântico Sul. O Rio Grande do Norte, desde o período de sua ocupação colonial sempre foi ponto estratégico, no século XX, a II Guerra Mundial foi prova disto (MEDEIROS, 2001, p. 117-118).

No início da guerra, três navios militares brasileiros faziam a guarda da costa potiguar: Cananéia, Camaquã e Camocim. Estes apoiados por aviões da FAB (Força Aérea Brasileira). Em 1941 Natal recebia o 16º Regimento de Infantaria, parte da 14ª Divisão de Infantaria. Também a Base Naval de Natal recebia o seu comandante, Ary Parreiras. Já “a aviação, unificada desde 18 de janeiro [de 1941] com a criação do Ministério da Aeronáutica, possuindo o campo de ‘Parnamirim’, estabeleceu a sede da 2ª Zona Aérea, cujo comando foi confiado ao Brigadeiro Eduardo Gomes” (MEDEIROS, 2001, p. 119).


A preocupação central para o Brasil era o Afrika Korps de Rommel, situado na África do Norte, com seus aviões, submarinos e homens que podiam avançar sobre a costa nordestina. Para dar conta desta ameaça, “foi decretada a mobilização geral, não somente militar, com o chamamento de reservistas de várias classes para a caserna, como ainda de ordem econômica, para o que, neste particular, foram criados órgãos especializados” (MEDEIROS, 2001, p. 119), voltados para a economia de guerra e seus esforços (racionamento, alocação de mão-de-obra, busca de matérias-primas essenciais, etc.).

Ateste-se também a presença da Cruz Vermelha, a importância da Defesa Civil (inclusive com a importante participação de Luis da Câmara Cascudo), a Polícia local, que possibilitaram a defesa interna e o serviço de contra-espionagem. Também foram significativos as polícias de black-outs, os alarmes estratégicos e os abrigos públicos. Os exercícios de black-out foram realizados na cidades que estava protegida pela artilharia aérea, holofotes e aviões. A partir de maio de 1943

a cidade viveu em black-out ininterrupto, enquanto durou a guerra na África. Nesse período, por três ocasiões, foram dados alertas reais com duração de mais de duas horas, por terem sidos detectados sinais de aproximação de forças inimigas, felizmente sem conseqüências maiores, porém causadores de grande susto à população recolhida aos abrigos, e para muitos que fugiram para o interior do Estado (MEDEIROS, 2001, p. 120).

Medeiros informa que em outubro de 1939 o Congresso das Nações Americanas estabelece uma Zona de Segurança que envolveria o continente americano. Tomado os limites do Brasil, estabeleceu-se uma “Zona de Guerra, subdividida em Teatros de Operações. (…) Nessa delimitação, o Estado do Rio Grande do Norte foi enquadrado no Teatro de Operações (TO) do Nordeste (NE)” tendo em vista sua localização estratégica (2001, p. 121).

O importante era estabelecer a defesa por meios navais e aéreos. Foram criados para tanto: “16º R.I., GBC (40º e 42º BC), AD/14 – com: 4º GADo – 2º /8º RAM – 3º RADC, 1º/3º RAAAe, 2º/GMAC, 2º BCC, 1 B. de Engenhos e 1 B. de Comunicações” (Medeiros, 2001, p. 122). Tudo isso agrupado ao longo do litoral potiguar e em alguns pontos do interior. Medeiros descreve com acuidade as estratégias de defesa que poderiam ser utilizadas caso a costa fosse invadida ou atacada (Cf. 2001, p. 122-123).

Natal é modificada drasticamente com os eventos. De cerca de 60 mil habitantes, viu sua população quase duplicar. Milhares de militares: americanos e brasileiros. Além da mão-de-obra atraída pelos grandes empreendimentos militares. Os americanos eram grandes gastadores e dinamizaram a economia local, principalmente o comércio e os cabarés (MEDEIROS, 2001, p. 125).


Parnamirim Field foi construída com mão-de-obra potiguar e milhares de norte-rio-grandeses lá passaram. Além dela, os americanos construíram uma base aerofluvial às margens do rio Potengi, “não apenas para abrigo e operações das grandes lanchas PT de combates anti-submarinos, como necessária aos menores hidroaviões anfíbios de transporte de cargas” (MEDEIROS, 2001, p. 125).

Tarcísio de Medeiros destaca a “Conferência de Natal”, realizada a 28 de janeiro de 1943, onde o presidente Getúlio Vargas, do Brasil, e o presidente, Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, a bordo do Cruzador Humboldt, fecharam vários acordos de cooperação e aliança militar e civil (MEDEIROS, 2001, p. 125).


Além de destacar a brilhante liderança do Almirante Ary Parreiras na Base Naval de Natal, Medeiros mostra que as baixas da Marinha brasileira chegaram a 476 mortos em serviço ativo, ultrapassando o número de pracinhas da FEB na Itália. Os maiores efetivos eram do Exército assim como as maiores atribuições. Muito material norte-americano foi utilizado, incluído os Jeeps (2001, p. 128).

A figura do soldado tornou-se significativa no cenário natalense. Seus hábitos e rotinas se mesclaram às da cidade. Seu treinamento era melhor que seu equipamento e armamento, que só foi melhorado a partir de junho de 1944, quando a 14 D.I, começou a receber equipamento mais moderno (MEDEIROS, 2001, p. 129-131).

A importância de Natal pode ser verificada a partir da declaração do General em Chefe dos Exércitos Aliados, Dwight Eisenhower em 1946:

Tive muita satisfação de pisar o solo do lugar de que tanto cogitei durante a guerra. Natal teve, como todos sabem, influência decisiva na guerra, possibilitando às Nações Unidas as maiores facilidades para alcançar seus objetivos (MEDEIROS, 2001, p. 130).

Natal foi importante e continua expressando sua importância na presença do Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno e de sua Base Aérea. Daqui foram lançados as bases para a derrota do Afrika Korps de Erwin Rommel e para a Campanha da Itália, assim coma a queda do Nazi-facismo na Europa.

Bibliografia

CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: RN Econômico, 1999.

MARIZ, Marlene da Silva, SUASSUNA, Luiz Eduardo Brandão. História do Rio Grande do Norte. Natal: Ed. Sebo Vermelho, 2002.

MEDEIROS, Tarcício. Estudos de História do Rio Grande do Norte. Natal: Tipografia Santa Cruz, 2001.

Por Thadeu de Sousa Brandão - Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN. Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

domingo, 7 de junho de 2015

A mão forte da inquisição em terras potiguares

Os termos “Inquisição” ou “Tribunal do Santo Ofício” são palavras que até hoje nos lembram duma época de iniquidade, terror e medo. Onde a Igreja Católica extrapolou em todos os aspectos possíveis, a sua atuação como propagadora da fé e carrega até hoje esta nódoa negra na sua secular história institucional.


Com uma atuação muito forte na Europa, a Inquisição não deixou de tocar as terras do Brasil durante o nosso período colonial e a pequena Natal, na incipiente Capitania do Rio Grande, foi visitada pelos homens que doutrinavam através do terror.


Pesquisas realizadas apontam que os inquisidores encontraram nestas terras banhadas de sol, casos de eclesiásticos envolvidos em práticas proibidas a eles pela Santa Sé e observaram o comportamento dos moradores desta pequena e irrelevante capitania.

O Padre que fez Propostas Indecorosas a Sete Mulheres em Natal

O antropólogo baiano Luiz Mott, ao realizar uma pesquisa nos arquivos da Torre do Tombo, em Portugal, encontrou inúmeras denúncias remetidas ao Santo Ofício a partir do Brasil, algumas destas se referiam à Capitania do Rio Grande, atual estado do Rio Grande do Norte.


Em um artigo intitulado “A inquisição e o Rio Grande do Norte”, o antropólogo mostra que Natal, além de ser o principal núcleo populacional da Capitania, era o local onde habitavam o maior número de pessoas de cor branca, fazendo com que a pequena urbe fosse uma parada obrigatória para os religiosos da Santa Inquisição.

Para desgosto destes rígidos homens da doutrinação da fé católica, uma das primeiras ocorrências averiguadas na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, Matriz da capital do Rio Grande, tinha como acusado um religioso, o Padre Manuel Cardoso Andrade onde ele teria sido denunciado por ter feito propostas indecorosas a sete mulheres e 1750.


Uma das mulheres, Maria José de Barros, afirmou que o referido sacerdote ordenou que a mesma que fosse buscar o seu atestado de confissão quaresmal na casa do acusado. A denunciante afirma que o religioso, já se encontrando em sua residência, teria prometido fornecer quantos atestados à denunciante desejasse, desde que tivesse com ele o número de cópulas equivalentes em número de atestados.

O mesmo padre foi acusado de ter possuído algumas escravas, dentre elas a crioula Rita, que afirmou ter tido contato carnal com o acusado duas vezes. Pesou sobre o padre a acusação do mesmo ter feito “cantadas” a três mulheres: Joana Mulata, Ana Maria Crioula e Lucrécia, esta última de nação Angola.

Apesar da preferência do religioso por mulheres negras, o mesmo foi igualmente denunciado pela tentativa de persuadir mulheres brancas. Entre estas está o relato de Teodósia Maria, esposa de certo Capitão Dias, que acusou o Padre Cardoso de ter feito “propostas indecorosas” no momento da confissão.


Como as atitudes do Padre Cardoso contra as mulheres, brancas ou não, provavelmente eram de conhecimento da população da pequena urbe, não é difícil deduzir a repercussão que ocorreu quando o mesmo foi denunciado por ter apertado um dos dedos, provavelmente com intenções lascivas, da jovem Josefa, filha do então Capitão Albuquerque Maranhão, descendente do primeiro comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Como a moça em questão pertencia a uma família muito influente e poderosa, o acusado se viu diante das garras da Inquisição.

Contudo, o Padre Manuel Cardoso Andrade não fora condenado, pois falecera em 1762, antes das investigações do Santo Ofício ser concluídas.

Os Padres que Atacavam na Hora da Confissão

Outro religioso envolvido com os convites para as práticas de torpezas foi o Frei Inácio de Jesus, um Carmelita reformado, da Província de Pernambuco e morador na Freguesia d e São João Baptista do Assú.

Denunciado em 1752 por Isabel Pereira, mulher casada, onde afirmou ter o acusado aproveitando-se da pouca iluminação da igreja e ter feito nela uma pulsão (masturbação) na denunciante, que assombrada e com medo silenciou diante da agressão sexual.


Neste caso encontramos um agravante, no dia seguinte ao ato o Frei Inácio concedeu a confissão a Isabel Pereira e ainda lhe deu a comunhão.

Apesar da denúncia, o Santo Ofício arquivou o processo, mesmo com a confirmação do agravante.

Outro caso foi o que envolveu padre José Inácio de Oliveira, então residente da Freguesia de São João Baptista do Apody, localizada já nos limites do Ceará.

Pesa em sua acusação o fato de ter tido atos pecaminosos com todas as mulheres que vinham para fazer a confissão.

Contra o “Corpo Fechado” 

A maioria das denúncias contra eclesiásticos está restrita ao âmbito sexual, entretanto essas práticas não se limitavam apenas a este campo.

Houve uma denúncia pela utilização de representações ou símbolos proibidos pela igreja; no ano de 1765, na Freguesia de Nossa senhora do Carmo de Inhamus, no Ceará, um cidadão chamado Pedro Álvares Correia foi acusado de portar em uma pequena bolsa que trazia no pescoço “patuás de mandingas”. Esta bolsa foi doada, segundo o acusado, pelo Padre André Sapúlveda, da Freguesia do Apodi.


A denúncia teria partido de outro religioso, o Padre José de Freitas Serrão que chegou a afirmar o motivo do uso destas peças era utilizado para proteger as pessoas que estavam constantemente adentrando o sertão, que neste período era uma área muito violenta e os apetrechos eram utilizados para “fechar o corpo” contra tiros e facadas.

Roupas Indecorosas em Portalegre

Outras denúncias apontam problemas de comportamento dos religiosos e dos seus fiéis.

Em um artigo escrito em 2004, o historiador Francisco Firmino Sales Neto, mostra em seu artigo “Pelos ásperos caminhos do deserto: Um estudo das Visitas Episcopais a Capitania do Rio Grande”, que em 1779 o visitador Joaquim Monteiro da Rocha fez severas críticas ao comportamento dos religiosos que respondiam pela Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação.


Desejava o inquisidor que fosse alterado o comportamento dos homens que propagavam a fé católica na pequena Natal, servindo de exemplo para o resto da população. Em suas lamuriosas críticas o visitador comenta “É digno de chorar-se com lágrimas de sangue a pouca reverência, com que se assiste nos templo, e a santa missa, conversando, e tratando matérias profanas, como que estivessem na praça. (…) E os sacerdotes são os primeiros que se profanam a santidade do lugar sagrado, conversando, tratando com menos reverência às coisas sagradas, e provocando aos mesmos seculares, a quem deviam dar bom exemplo”.

Nesta mesma época, no atual município serrano de Portalegre, no Oeste do Estado, os membros do Santo Ofício apontaram desvios de seus habitantes brancos e negros.

Estes encontraram mulheres da pequena vila, que não se vestiam da forma considerada correta. O Bispo Dom José Fialho repreendia essas mulheres vestidas de “invenções diabólicas” a se absterem “dos tais vestidos somente usando trajes que mostrem composição e respeito”. O Bispo ameaçava afirmando que “se assim não estão trajadas, usaremos dos meios que nos parecer necessário para evitar as demais lascívias das composições e também advertimos aos senhores de escravos não consintam que estas andem despidas como vulgarmente costumam mais sim cobertas com aquele ornato que seja bastante para encobrirem as provocações da sensualidade”.


Até o culto a São Gonçalo, santo muito popular no Brasil colonial tinha na Freguesia de São João Batista da Vila de Portalegre uma versão deturpada, causando indignação no reverendo visitador, ao que diz: “É abominável a falta de religião que se observa em alguns dos fregueses desta freguesia, e muito de se estranhar a indiscrença devoção que com, o pretexto frívolo de piedade, costumam festejar o Senhor São Gonçalo em suas casas, admitindo nelas pessoas de um, e outro, sexo, formando danças sem advertirem que semelhantes congressos não podem resultar serviço a Deus e culto ao glorioso santo”.

Contra o Consumo de Jurema em Arês

Já em Arês, que em 1760 possuía uma população de 949 almas, foi possível identificar um cotidiano religioso bem diverso do encontrado na capital.

A preocupação dos visitadores que estiveram na Freguesia de São João Batista da Vila Nova de Arês era com o comportamento indígena, “porque sendo os índios naturalmente descuidados”, como colocou em documento o visitador, “deve o pároco aplicar maior desvelo em doutriná-los”.


Neste documento o visitador dá fortes indicações para que o vigário local repreenda a prática do ritual indígena, conhecida por “Jurema”, ao que diz: “considerando que estes pobres índios, e neófitos necessitam de dobrado cuidado, e vigilância no pároco, para conservá-los na observância dos dogmas, ritos católicos, e apartá-los de algumas devoções filhas de sua brutal e gentílica natureza a que são propensos, e inclinados no que muito lhe encarregamos a consciência de seu pároco principalmente para que não pratiquem a sua célebre, e antiga bebida chamada jurema que constantemente bebem em lugares retirados, por ser bebida forte ficam embriagados, e alienados do juízo, e fingem visões indignas de católicos, cujos erros se devem extinguir quanto couber nas forças de um diligente pároco”.

As Possíveis Causas

Dentre algumas explicações para se entender essas transgressões, podemos apontar a distância que havia das regiões mais importantes e, portanto, mais populosas da colônia com as áreas mais distantes. A consequência disso foi à falta de fiscalização por parte da igreja, no que se refere à punição de clérigos que de algum modo transgrediram contra os seus princípios enquanto lideres espirituais.


No caso de uma região pouco habitada e muito afastada dos centros populacionais, como o sertão, o mecanismo de denúncias funcionava assim: qualquer indivíduo podia entrar com uma denúncia a um religioso, que enviava o relato dos fatos em caráter de urgência ao “Comissário” mais próximo, que despachava uma carta secreta para Lisboa na primeira caravela que estivesse de regresso à Europa. Acredita-se que existia uma rede de espiões que tentavam cobrir toda a colônia, que convenhamos era uma tarefa muito difícil.

Outro fator que pode ser levado em consideração para se compreender a ousadia destes “Homens de Deus”, se refere ao prestígio que esses religiosos tinham conseguido junto aos contingentes populacionais.

Mesmo que a grande maioria deles não tivesse um conhecimento teológico apurado, gozavam de certo cabedal, uma vez que a sua palavra era legitimada pela população, considerada por esta como a do próprio Deus. O Padre, uma vez aceito como representante do criador, tinha todo o direito de interferir na vida dos habitantes dos locais em que estavam.

Podemos somar a esse fator outra questão; a falta de conhecimento que as pessoas tinham da teologia católica, principalmente as mulheres. Estas não possuíam praticamente nenhuma instrução e quando a tinham se limitava ao âmbito das práticas domésticas. Essa falta de conhecimento as tornava “presas” fáceis para os padres mais audaciosos, que aproveitando o cair da noite, utilizavam a penumbra dos lampiões das igrejas para persuadir as moças e as senhoras a praticarem com eles os mais libidinosos desvios da conduta cristã.

Esse tipo de crime era conhecido como Solicitação e a sua denúncia ficava registrada no Caderno dos Solicitantes. O termo canônico para este pecado era “solicitatio ad turpia”.

Blog Tok de Historia - Por Rostand Medeiros e Mozart Xavier