segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O político e o comerciante

*Por Válter de Brito Guerra


Com o assassinato do seu irmão Chico Pinto, por questões políticas, em maio de 1934, Lucas Pinto viu-se obrigado a assumir o comando do Partido Popular em Apodi, que fazia oposição ao Governo do Estado. Lucas Pinto assume a postura de chefe político e coronel, ao mesmo tempo, fortalecido pelo poder econômico, já ostentando um invejável patrimônio, senhor de muitos bens e muito dinheiro. E herdeiro político da família Pinto em Apodi. 

Chico Pinto era um chefe político de grande prestígio. Sua morte teve grande repercussão em todo o Rio Grande do Norte. Era voz corrente que havia um plano sinistro dos aliados do governo, com o objetivo de matar os principais chefes políticos da oposição. Chico Pinto estaria incluído na lista negra do abominável plano. 

Foi nesse clima de agitação, de crimes de morte, espancamentos e prisões ilegais, que o já Coronel Lucas Pinto assumiu, assustado, mas com a devida precaução, a direção do Partido Popular, substituindo seu irmão, assassinado traiçoeiramente em sua própria casa, o que não seria uma tarefa fácil. Enfrentar a fúria e a violência do coronel Benedito Saldanha naquela época, em Apodi, era uma parada extremamente perigosa. 

Disposto a lutar contra um governo ditatorial, o coronel Lucas Pinto não se intimidou diante do perigoso inimigo. 
Certa vez, foi chamado à presença do temível Benedito Saldanha, o forasteiro que para infelicidade do Apodi veio aportar nesta cidade. Queria o poderoso chefe que o Lucas Pinto comesse um pedaço de jornal, em que se encontrava escrito, um artigo alusivo ao senhor Saldanha, que atribuía ao coronel, a autoria do mesmo. Graças à interferência de pessoas, o diabólico plano não chegou a ser realizado. Livrando-se o coronel Lucas Pinto do humilhante castigo. 

Não obstante o clima de hostilidade que afrontava a todos, com ameaças de todo tipo, o coronel continuava trabalhando junto aos eleitores, insistentemente, conclamando-os a votarem no Partido Popular. Apoiado por muitos amigos, continuou enfrentando os maiores perigos, inclusive de morte. Aproximava-se a eleição para deputado estadual no Rio Grande do Norte. Os dias passavam. Perseguição e atos arbitrários eram armas usadas pelos simpatizantes do governo, que usavam também a policia para implantar o pânico e o terror, objetivando amedrontar o eleitor. 

O Coronel Lucas Pinto não esmorecia um só instante, lutando dia a noite como um herói. Para ganhar a eleição de 14 de outubro de 1934 e com isto, tentar expulsar de terras apodienses o intruso aventureiro Benedito Saldanha, que aterrorizava a pacata população de Apodi. 

A eleição para deputado foi bastante agitada. O Partido Popular saiu vitorioso no Estado do Rio Grande do Norte e em Apodi. Foi o grande e decisivo passo para a vitória final a eleição do Dr. Rafael Fernandes em 1935, para governador, pela Assembleia Legislativa. 

Conquistava o coronel Lucas Pinto sua primeira vitória eleitoral, à frente do Partido Popular, dando maioria em Apodi aos deputados da oposição. Muitas vitórias foram posteriormente conquistadas, graças ao vigoroso trabalho desenvolvido pelo novo chefe político, que durante quase trinta anos demonstrou grande habilidade na arte de fazer política. 

Lucas Pinto tornou-se, portanto, um político astuto e experiente. Conhecia, como ninguém, as manhas e estúcia do eleitor, sabendo desculpar habilmente, quando este exigia coisa que não podia ser atendida. Ao eleitor fiel ao partido, dava o apoio merecido, defendendo-o na hora precisa. Não perdoava adversário. Mas não concordava com agressões físicas contra opositores. Paternalista costumaz, fazia questão de distribuir pessoalmente ao eleitor, a infalível ajuda nas campanhas eleitorais, visitando sítios, fazendas e casas. Era ao mesmo tempo patrão, conselheiro, protetor e advogado do seu fiel eleitor, metendo-se em todas as questões que envolvessem correligionários, sempre defendendo-os. 

O Coronel Lucas venceu de 1934 a 1960 todas as eleições realizadas em Apodi, para todos os cargos, o legislativo e o executivo. Vereador, prefeito, deputado, senador, Presidente da República e Governador do Estado. O medo de perder eleição o apavorava. Por isso, desdobrava-se em cuidados para manter coeso o seu bloco eleitoral. 

Era tão grande a fama do prestígio político do Coronel Lucas Pinto na região do Apodi, que algumas lideranças(chefes) políticas de alguns municípios do Rio Grande do Norte, em eleição para governador, aguardavam a decisão do líder apodiense para depois tomarem suas decisões. Este é um registro que fazemos baseado em notícias que circulava na época. 

Assim continuava o Coronel Lucas Pinto vencendo eleições, sempre com expressivas maiorias. Na eleição de governador em 1960, saindo vencedor no Estado o candidato Aluisio Alves, Lucas Pinto obteve para o mesmo candidato uma maioria que ultrapassou os dois mil votos, quando o eleitorado de Apodi não chegava a dez mil eleitores. Nas concentrações políticas não faltava sua presença, mas nunca falou em público. Era homem de poucas letras. Entretanto, quando precisava se comunicar com autoridades ou políticos, por telegrama, ofício ou carta, fazia questão de ditar o texto a ser redigido. Não queria que alguém o fizesse sem a sua participação. Eu, que fui testemunha desses detalhes, achava que as palavras dele faziam sentido. 

O tempo nos traz vitórias, glórias e alegrias. Arrasta-nos, também, a derrotas e tristezas. Assim passamos a vida. Enfrentando as naturais dificuldades que se antepõem a nossa felicidade, nem sempre encontrada quando a procuramos. São inevitáveis, portanto, os momentos de insucesso, em que vemos desmoronar-se sonhos e esperanças. A existência humana é uma alternativa de acontecimentos. Ora bons, ora ruins, até o instante final de nossa trajetória aqui na terra... 
O Coronel Lucas Pinto experimentou, em vida, muitas vitórias. Como um herói venceu muitas batalhas, que lhe deram fama e o consagraram como um exemplo de coragem e persistência, tantas vezes comprovadas na busca dos seus objetivos e dos seus ideiais. 

A morte do seu irmão Chico Pinto parece que o retemperou para enfrentas as árduas e perigosas lutas eleitorais, em vez de abatê-lo. Seu objetivo era derrotar em Apodi o seu ferrenho inimigo, o poderoso chefe Benedito Saldanha e expulsá-lo do município, o que realmente conseguiu, com a vitória do Dr. Rafael Fernandes em 1935 para Governador do Estado.

Derrotas, frustrações e desenganos, tudo isso iria surpreender muito em breve o grande chefe político. E atacá-lo como faz o inimigo ao ferir suas vítimas, para destruí-las. Nem poder econômico, nem poder político puderam evitar a queda do poderoso líder do Apodi. 

Aproximava-se a eleição de 1962. Próximo estava também o acontecimento inevitável. A derrota do coronel Lucas Pinto. O dia 07 de outubro daquele ano, não deixa de ser uma data histórica para o Apodi. para o prestigioso político, a data representou um terrível pesadelo, um golpe traumatizante. Começava o esfacelamento do seu imenso poder político, conquistado com tanto sacrifico em batalhas memoráveis. Era o final da oligarquia da família Pinto. Estava eleito o candidato Izauro Camilo de Oliveira, saído do Partido Popular do coronel Lucas Pinto para enfrentá-lo numa luta desigual, na campnha do tostão contra o milhão. 

Descrever o estado do espírito do Coronel, face ao acontecimento, é tarefa difícil. Jamais passou pela sua cabeça perde uma eleição em Apodi. Realmente, sua atitude contra Felipe Guerra, anulando a criação do município, para mostrar sua força, magoando adversários e revoltando toda uma população, foi o principal motivo da derrota. Ganhou nas urnas de Apodi e perdeu nas de Felipe Guerra. Derrotado noutra eleição de prefeito, no dia 25 de novembro de 1968, perde o velho político qualquer chance de recuperação eleitoral. Admirado e odiado chega ao final de sua carreira política, marcada por períodos de glória, perigo e agitação. 

Inconformado com o quadro político, não resiste ao impacto do ostracismo. Frustrado e decepcionado, afasta-se dos amigos e dos negócios. Perturbado, tenta na bebida o refúgio para o seu profundo sentimento de frustração, para os seus males e sofrimentos. 

Deprimido, enclausura-se, e depois de longo e doloroso sofrimento morre no dia 6 de fevereiro de 1981, o mais prestigioso político de todos os tempos na região do Apodi, o Coronel Lucas Pinto. 

Fonte: Misturas de Frases e Palavras - Válter de Brito Guerra(1998).

Presidentes da Assembleia Legislativa do RN

Presidentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte- ALRN

DEP. PEDRO SOARES DE AMORIM - (PSD) -  Presidente da Assembleia Constituinte de 1947 e Presidente da Assembleia Legislativa.
Mandato: 31 de julho a 17 de dezembro de 1947

*De 1947 a 1971, o vice-governador do Estado passa a assumir a Presidência da Assembleia Legislativa, conforme determinava a Constituição Estadual de 1947. Durante esse período, 6 vice-governadores acumularam o cargo de chefe do poder legislativo potiguar, sendo eles: Tomaz Salustino, Sylvio Pedroza, José Varela, Walfredo Gurgel, Theodorico Bezerra e Clóvis Mota. 

TOMAS SALUSTINO GOMES DE MELO - (PSD) - vice-governador do Estado eleito indiretamente, que assumiu a Presidência da Assembleia Legislativa do RN, conforme determinava a Constituição Estadual de 1947.
Mandato: dezembro de 1947 a 31 de janeiro de  1951.

SYLVIO PIZA PEDROZA - vice-governador do Estado eleito pelo PSD, em 03 de outubro de 1950. Ao tomar posse, acumulou a presidência da Assembleia Legislativa. 
Mandato: 31 de janeiro a 16 de julho de 1951. 

OBS: Com a morte do governador Dix-Sept Rosado, vitimado em um desastre aéreo, Sylvio Pedroza deixou o comando do poder legislativo potiguar para assumir o governo do Estado. Dessa forma, a Presidência da Assembleia Legislativa passa a ser exercida por um deputado estadual até o ano de 1956. 

EZEQUIEL EPAMINONDAS DA FONSECA FILHO - (PSP) - 1º vice-presidente, que  assumiu a presidência da Assembleia, após o afastamento do vice-governador Sylvio Pedroza. 
Mandato: julho de 1951 a  janeiro de 1953

DEP. SEBASTIÃO MALTEZ FERNANDES - PSP 
Mandato: fevereiro de 1953 a  janeiro de 1956

JOSÉ AUGUSTO VARELA - vice-governador do Estado, eleito  pelo PDC, em 03 de outubro de 1955. Conforme determinava a legislação vigente, ao tomar na vice-governança,  passou a  acumular o cargo de Presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, 
Mandato: 01º de fevereiro de 1956 a 11 de novembro de 1960.

DEP. VICENTE DA MOTA NETO - PSD
Mandato: 11 de novembro de 1960 a 12 de janeiro de 1961

DEP. JOSÉ VASCONCELOS DA ROCHA - PTN
Mandato: 12 a 31 de janeiro de 1961.

MONSENHOR WALFREDO DANTAS GURGEL - vice-governador do Estado, eleito  pelo PSD, em 03 de outubro de 1960. Ao tomar posse, acumulou a presidência da ALRN.
Mandato: fevereiro de 1961 a janeiro de 1963.

THEODORICO BEZERRA - PSD - vice-governador eleito em pleito indireto, via Assembleia Legislativa,  no mês de janeiro de 1963. Assumiu o comando do Poder Legislativo Potiguar, após a renúncia de Walfredo Gurgel, que se elegeu Senador da República nas eleições de outubro de 1962. 
Mandato:  janeiro de 1963 a 31 de janeiro de 1966. 

CLÓVIS COUTINHO DA MOTA - vice-governador do Estado eleito pelo PTB(Partido Trabalhista Brasileiro) em 03 de outubro de 1965. Ao tomar posse, acumulou o cargo de Presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. A partir de 1966, filiou-se à ARENA(Aliança Renovadora Nacional)
Mandato: 31 de janeiro de 1966 a  31 de janeiro de 1971. Foi o último vice-governador a presidir o poder legislativo potiguar. 

*A partir  de 1971,  a presidência da Assembleia Legislativa do Estado passa a ser exercida por um deputado estadual eleito por seus pares.

DEP. MOACYR TORRES DUARTE - ARENA
Mandato: fevereiro de 1971 janeiro de 1973

DEP. EZEQUIEL JOSÉ FERREIRA DE SOUZA - ARENA
Mandato: fevereiro de 1973 a  janeiro de 1975

DEP. DARY DE ASSIS  DANTAS - ARENA
Mandato: fevereiro de 1975 a janeiro de 1977

DEP. ALCIMAR TORQUATO DE ALMEIDA - ARENA
Mandato: fevereiro de 1977 a janeiro de 1979

DEP. LUIZ ANTÔNIO VIDAL - ARENA/PDS
Mandato: fevereiro de 1979 a  janeiro de 1981

DEP. CARLOS AUGUSTO DE SOUZA ROSADO - PDS
Mandato: fevereiro de 1981 a  janeiro de 1983

DEP. MÁRCIO DJALMA CAVALCANTI MARINHO - PDS
Mandato: fevereiro de 1983 a janeiro de 1985

DEP.  ANTÔNIO WILLY VALE SALDANHA  - PDS
Mandato: fevereiro de 1985 a  janeiro de 1987

DEP. NELSON HERMÓGENES DE MEDEIROS FREIRE - PFL
Mandato: fevereiro de 1987 a janeiro de 1989

DEP. VIVALDO  SILVINO DA COSTA - PDS
Mandato: fevereiro de 1989 a 1990

DEP. VALÉRIO ALFREDO MESQUITA - (PL) - 1º vice-presidente, assumiu interinamente o comando da Assembleia, em virtude da renúncia do então presidente  deputado Vivaldo Costa, que se elegeu vice-governador do Estado nas eleições de outubro de 1990. 
Mandato: 1990 a 31 de  janeiro de 1991
DEP. JOSÉ ADÉCIO COSTA  - PFL
Mandato: 01 de fevereiro de 1991 a 31 de janeiro de 1993

DEP. RAIMUNDO  NONATO PESSOA FERNANDES - PL 
Mandato: 01 de fevereiro de 1993 a 31 de janeiro de 1995

DEP. LEONARDO ARRUDA CÂMARA - PDT
Mandato: 01 de fevereiro de 1995 a 31 de janeiro de 1997

DEP. ÁLVARO COSTA DIAS - PMDB
Mandato: 01 de fevereiro de 1997 a 31 de janeiro de 1999;
01 de fevereiro de 1999 a 31 de janeiro de 2001 e
01 de fevereiro de 2001 a  31 de janeiro de 2003

DEP. ROBINSON MESQUITA DE FARIA - PFL/PMN/PSD
Mandato: 01 de fevereiro de 2003 a 31 de janeiro de 2005;
01 de fevereiro de  2005 a 31 de janeiro de 2007;
01 de fevereiro de 2007 a 31 de janeiro de  2009 e
01 de fevereiro de 2009 a 30 de dezembro de 2010

DEP. MÁRCIA FARIA MAIA - (PSB) - 1º vice-presidente, assumiu interinamente o comando da Assembleia, em virtude da renúncia do presidente dep. Robinson Faria, que se elegeu vice-governador do Estado. Foi a primeira mulher a exercer o cargo de Presidente da ALRN.
Mandato: 31 de dezembro de 2010 a  31  de janeiro de 2011

DEP. RICARDO  JOSÉ MEIRELLES DA MOTTA - PROS/PSB
Mandato: 01 de fevereiro de 2011 a  31 de janeiro de 2013 e
01 de fevereiro de  2013 a 31 de janeiro de 2015

DEP. EZEQUIEL  GALVÃO FERREIRA DE SOUZA - PMDB/PSDB 
Mandato: 01 de fevereiro de 2015 a  31 de janeiro de 2017;
01 de fevereiro de 2017 a  31 de janeiro de 2019;
01 de fevereiro de 2019 a 31 de janeiro de 2021;
01 de fevereiro de 2021 a 31 de janeiro de 2023

FONTE:  Livro "Presidentes da Assembleia Legislativa do RN",  de Raimundo Alves de Souza; 
Site da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte - ALRN;
Memorial do Legislativo Potiguar 

NOTA DO BLOG: É importante frisar que a Assembleia Legislativa do RN, foi fundada no dia 02 de fevereiro de 1835, substituindo o extinto Conselho Geral da Província. Os dados acima correspondem a partir do ano de 1947, quando a Assembleia Legislativa foi reaberta, após ter sido fechada pelo Golpe de Estado do Presidente Getúlio Vargas, em novembro de 1937. 

*Francisco Veríssimo - Portal Fatos do RN