Paulo Freire: obra de Alan Kardeque de Oliveira, estudante de Computação e Informática de Angicos/Foto: Cedida
O Campus Angicos da Universidade Federal Rural do Semi-Árido foi palco das comemorações do Centenário de Paulo Freire, na cidade onde o pedagogo desenvolveu o projeto pioneiro das 40 Horas. A iniciativa partiu da Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Educação, em parceria com a Ufersa. A data de aniversário de nascimento de Paulo Freire é 19 de setembro, tendo a iniciativa comemorativa acontecido no sábado, dia 18, com a participação de autoridades educacionais e políticas como o prefeito Miguel Pinheiro Neto, e de alguns freireanos, estudantes que participaram da iniciativa em 1963. Além de outro convidado especial, o professor Marcos Guerra, de 80 anos, que na época foi um dos coordenadores dos Círculos de Cultura do Projeto 40 Horas de Angicos.
As comemorações aconteceram em frente ao Memorial Paulo Freire, no Campus Angicos, com teatro, homenagens e a presença dos ex-freireanos das 40 Horas de Angicos/Foto: Cedida
Seguindo todos os protocolos de biossegurança da Vigilância Sanitária, a comemoração aconteceu em espaço aberto, em frente ao Memorial Paulo Freire, prédio construído nas dependências da Universidade, para servir de museu e centro de formação e cultura da Ufersa Angicos. “Um espaço para o registro da memória de Paulo Freire e do semiárido potiguar. Um local para a formação da cultura articulada ao ensino, à pesquisa e à extensão universitária na área da educação”, afirmou a diretora do Campus Angicos, professora Jacimara Vilar. O prédio, que ainda não foi inaugurado oficialmente, abriu excepcionalmente para as comemorações do centenário do professor que detém o título de Patrono da Educação Brasileira.
As comemorações do “Centenário de Paulo Freire: Angicos e suas vidas” aconteceram de forma mais simples, em decorrência da pandemia da Covid-19, com transmissão ao vivo pelo Canal YouTube da Ufersa, porém não menos importante para exaltar o legado deixado por Paulo Freire para Angicos, para o Brasil e para o mundo. Um legado que segundo a professora Jacimara Vilar incomoda até os dias atuais. “Ainda hoje tentam desmoralizar a obra do educador, que mesmo estando num regime democrático, a obra de Paulo Freire continua sendo perseguida”, pontuou.
Professora Jacimara e professor Samuel, diretora e vice-diretor da Ufersa Angicos/Foto: Assecom
Para a diretora da Ufersa Angicos, o Memorial é muito importante como palco de resistência e de luta pela educação. Jacimara Vilar comparou a obra de Paulo Freire ao papel da Universidade, citando o próprio pedagogo: “Estamos aqui para transformar pessoas e, para que essas pessoas possam transformar o mundo”, finalizou considerando ser esse o papel do Campus Angicos e das demais universidades.
Ao falar em nome da reitora, professora Ludimilla Oliveira, o pró-reitor de extensão e cultura da Ufersa professor Paulo Gustavo, se dirigiu aos idosos freireanos para enaltecer o trabalho do pedagogo brasileiro que é estudado no mundo. “Vocês são a prova da materialização da obra de Paulo Freire voltada para educação transformadora e libertadora”, afirmou.
Professor Paulo Gustavo, pró-reitor de extensão e cultura/Foto: cedida
Ainda segundo o professor Paulo Gustavo, os países que priorizam o ensino de qualidade são os que registram um crescimento acima da média. “A educação contribui para uma sociedade mais justa ao promover a consciência crítica e o respeito aos direitos humanos”, colocou, exemplificando que quem mais estuda tem melhores oportunidades. “A cidadania é fortalecida por meio da educação e a Ufersa existe para promover essa transformação”, finalizou.
Aniversário lembra presente. Essa foi a reflexão trazida pela secretária de educação de Angicos, professora Maria Teresa Baracho de Melo. “Que presente Angicos poderia dar para Paulo Freire nessa data tão significativa?”, questionou. Na sequência, ela mesma foi enumerando as respostas: “Lutar, revolucionar e esperançar por aqueles que estão excluídos da sociedade”. Para a secretária Teresa, o melhor presente se encontra no exemplo dado por Paulo Freire, em 1963, quando o pedagogo ousou com o Projeto 40 Horas ao iniciar uma pedagogia libertadora, revolucionária, voltada para a alfabetização. “Esse seria o melhor presente de Angicos, do Rio Grande do Norte, para Paulo Freire”, considerou a professora Teresa Baracho.
professor Marcos Guerra e família prestigiaram o centenário de Paulo Freire em Angicos/Foto: Cedida
MEMÓRIA – Na época com 22 anos, estudante de Direito, o advogado Marcos Guerra vivenciou de forma intensa às 40 Horas de Angicos. “Nos meus 80 anos de vida nada se apagou da minha memória. Estar aqui hoje é uma prova que fizemos história na educação brasileira, tamanha foi a grandeza desse trabalho iniciado aqui em Angicos e que se ramificou no mundo inteiro”, pontuou.
Na sua vasta experiência, Marcos Guerra agradeceu a Angicos, cidade que foi palco de uma experiência pioneira de grande importância para a educação e que pode continuar sendo. “Angicos deveria trabalhar para conquistar o Selo Território Livre do Analfabetismo”, deixou o recado para os gestores municipais e estaduais.
Ex-freireanos, protagonistas das 40 Horas de Angicos de Paulo Freire/Foto: Cedida
A experiência das 40 Horas é marcante também para os ex-freireanos. Para seu Paulo Sousa, que falou em nome dos demais colegas foi um período de alegria que deixou saudades. O que ele aprendeu e que ainda continua bem nítido na memória é a importância da educação. “Vamos continuar para fazer com que o grande e o pequeno sejam alfabetizados”, deixou o recado. Em 2013, a equipe de comunicação da Ufersa lançou o documentário: 40 Horas na Memória, num resgate da experiência vivenciada em Angicos em 1963.
Professora Rita Diana, idealizadora do Memorial Paulo Freire no Campus da Ufersa Angicos/Foto: Cedida
Para a professora da UFRN, Rita Diana de Freitas Gurgel, que iniciou a carreira no magistério superior na Ufersa Angicos, sendo uma das principais defensoras da obra de Paulo Freire no Estado, participar das comemorações na cidade é um momento de gratidão. “Quando cheguei a Angicos, não encontrei quase nada sobre Paulo Freire, e a partir dessa observação fomos ao encontro dos ex-alunos”, recordou.
Ainda segundo a professora Rita Diana, foi nas comemorações do Cinquentenário das 40 Horas, em 2013, que surgiu a ideia do Memorial Paulo Freire, hoje concretizado. “Angicos deve olhar para Paulo Freire da mesma forma que o mundo olha para Angicos em virtude do que foi plantado pelo pedagogo nessa cidade”, considerou.
*Portal da UFERSA.
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