Uma história de quase 520 anos ganha mais um capítulo. O Marco de Touros está de casa nova e poderá ser visitado novamente pela população. Na semana passada, técnicos do Museu Câmara Cascudo (MCC) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) concluíram a transferência do monumento histórico para uma sala no museu onde ele deverá ser limpo, restaurado e exposto à população. Desde 2018, o público não tinha acesso ao patrimônio, que estava abrigado no Forte dos Reis Magos e que está fechado para reformas.
A transferência envolveu dezenas de profissionais do MCC, IPHAN, além do setor de transportes da UFRN e da empresa de engenharia responsável pela reforma do Forte dos Reis Magos. O marco de pedra foi embalado e revestido com isopor EPS e foi colocado em uma caixa de madeira especialmente construída com travas para impedir a movimentação do material durante o transporte. Todo o processo seguiu as regras definidas pelo IPHAN para garantir a integridade do monumento histórico.
Momento da instalação do Marco no Museu Câmara Cascudo – Foto: Cícero Oliveira
Marco quinhentista
O marco de pedra é o monumento histórico mais antigo registrado no estado e teria sido instalado pelos portugueses na costa do Rio Grande do Norte no dia 07 de agosto de 1501 – o que também o tornaria o mais antigo marco da chegada dos portugueses ao país, segundo Luis da Câmara Cascudo. O Marco Quinhentista – como também é conhecido pelos estudiosos – foi tombado pelo processo número 680 em 1962 com o objetivo de perpetuar a memória dos Brasileiros sobre “o primeiro ponto da costa brasileira delimitado pelos portugueses”.
Feito de mármore, o Marco de Touros tem 1,2 metros de altura, 30 centímetros de largura e 20 centímetros de espessura. Na parte da frente, há uma cruz e um escudo em alto relevo. A peça também tem uma marca de fratura e que pode ter sido remendada com argamassa, além de várias marcas de lascas e esfoliações. É que a população da Praia do Marco, então no município de Touros, acreditava que a coluna de pedra tinha propriedades milagrosas e usavam pedaços de mármore para fazer chás milagrosos. Foi preciso chamar a polícia para que o pesquisador Oswaldo de Souza pudesse tocar no monumento, que depois foi trocado por uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes para ornamentar a capela construída à beira-mar. Para historiadores e turismólogos potiguares, a praia pode ter sido o local da chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral às terras do continente americano.
Restauração e pesquisa
Enquanto não se chegam a respostas definitivas sobre a chegada dos portugueses ao Brasil, o Marco de Touros pode trazer contribuições importantes para a historiografia nacional e trazer questões importantes sobre a chegada dos portugueses, as navegações e os primeiros contatos entre os europeus e os povos originários do território brasileiro. Esses e outros temas devem ser abordados nos trabalhos de pesquisa que serão realizados no monumento arqueológico a partir de agora.
O professor Abrahão Sanderson Nunes da Silva, do Departamento de Arqueologia do Museu Câmara Cascudo, explica que uma comissão reunindo representantes da UFRN e do IPHAN vai acompanhar todos esses trabalhos. “O Marco foi transferido a partir de uma parceria estabelecida com o IPHAN, que é um dos atores desse processo de transferência e que estará presente nas próximas fases”, afirmou o professor.
Segundo o superintendente do IPHAN no RN, Jorge Cláudio Machado da Silva, o Marco de Touros deve permanecer no museu por longo período. “O marco é um bem arqueológico, e a legislação preconiza que ele esteja em uma instituição de guarda, como é o MCC”, explicou Silva.
O Museu Câmara Cascudo segue fechado por causa das medidas de combate ao coronavírus. Ainda não há prazo para a abertura da exposição.
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