sexta-feira, 29 de março de 2024

Potiguar Fátima Torres é eleita primeira mulher presidenta da Unicafes


A luta cooperativista e da agricultura familiar do Rio Grande do Norte (RN) teve um dia histórico na última quarta-feira (27). Isso porque a potiguar Fátima Torres, natural do município de Apodi (RN) foi eleita a primeira mulher presidenta nacional da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), uma Organização Não Governamental (ONG) criada em 2005 para representar o cooperativismo solidário.

O papel da Unicafes, que também tem como princípio o desenvolvimento rural de forma sustentável, se entrelaça com outras temáticas, como a agricultura familiar, os povos tradicionais e os assentamentos da reforma agrária. "Sua eleição como presidenta da Unicafes Nacional é motivo de orgulho não apenas para o Rio Grande do Norte, mas para todo o Nordeste", declarou a Unicafes/RN nas redes.

Fátima, nascida em 1975, é filha dos agricultores familiares João Torres e Francisca Maria de Lima Torres, e mãe de dois filhos. Ela conta que, desde 1998, já dirigia associações da agricultura familiar na terra natal, chegando a ser, na época, presidenta da associação rural da comunidade em que vivia. Há vinte anos ela é sócia fundadora da Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (COOPAPI), que abrange todo o Rio Grande do Norte.

A apodiense, que vem trilhando um caminho de dedicação ao desenvolvimento rural sustentável e ao fortalecimento da agricultura familiar, conta que a COOPAPI decidiu se filiar à Unicafes desde que ela surgiu, em 2005. Passado um tempo, em 2010, foi criada a Unicafes/RN. A motivação estava no sentimento que Fátima e demais integrantes da Cooperativa tinham de não serem representados pelo sistema geral de cooperativismo, “porque lá tem grandes cooperativas, grandes ramos, como construção, habitação e energia”, explica, expressando ainda que a questão da agricultura familiar não é devidamente representada nesse cenário. “Na Unicafes, tem princípios que eu me identifico mais, como a representação de mulheres e jovens”.

A agora presidenta nacional da Unicafes vem trilhando um caminho de dedicação ao cooperativismo familiar. Imagem: Cedida.

Outro motivo que fez Fátima se interessar pela Unicafes foi a política de incentivo à formação educacional dos integrantes. “Quando fui presidenta da COOPAPI eu não tinha graduação. Então, fiz pedagogia e especialização em gestão de cooperativismo. Tudo estimulado e influenciado pela minha necessidade de me especializar, já que não iríamos contratar uma gerência de fora”, narra. “A ideia é também estimular outros filhos de agricultores a entender de gestão, de comercialização para poder atuar no cooperativismo”.

O protagonismo das mulheres na agricultura familiar e economia solidária

Fátima explica que, no cooperativismo solidário, tanto a nível estadual quanto nacional há programas e ações de incentivo destinadas às mulheres, e ressalta a integração do movimento com a Marcha das Margaridas, manifestação nacional de mulheres trabalhadoras rurais que acontece sempre no mês de agosto, a cada quatro anos. A última aconteceu no ano passado.

“A gente participa de muitos processos formativos, e isso faz com que as mulheres consigam ocupar espaços de decisão”, ressalta Fátima. “Quando a gente passa por esses processos de formação, começamos a entender a importância de ocuparmos esses espaços”.

A presidenta ainda destaca que, desde a pandemia da Covid-19, tem se fortalecido um coletivo nacional de mulheres do cooperativismo, que se reúne com frequência de forma on-line para momentos de formação com educadoras populares, para o compartilhamento das experiências dessas mulheres em diferentes lugares do país. “Nisso, a gente se estimula e fortalece uma a outra, para que consigamos estar nos espaços de decisão”.

Expectativas para a gestão

Entre os principais objetivos de Fátima Torres para a nova gestão nacional, está o avanço nas representações de jovens e mulheres no cooperativismo solidário, com a perspectiva de conseguir fazer com que metade das cooperativas nacionais seja composta por esse público. “Temos a meta de ter jovens participando efetivamente nas diretorias, nas produções e nas atividades do campo. Esse é um desafio muito grande, pois nossos jovens estão cada vez mais esvaziando o campo”, ressalta, afirmando o desafio da renovação das lideranças.

Outra expectativa é fortalecer uma rede de comercialização nacional, para fazer circular os produtos da agricultura familiar de diferentes estados em todo o Brasil.

Mas a questão tributária e legal é, para Fátima, o maior desafio. “É um absurdo que uma empresa ‘simples’ pague 11% de carga tributária pra ter um funcionário e uma cooperativa pague 33%”, argumenta. “A política nacional é contra o cooperativismo, não existe uma política que nos estimule do ponto de vista fiscal. Manter uma cooperativa é caro”.

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