sábado, 3 de abril de 2021

Em 1918 a Gripe Espanhola contaminou 500 pessoas e fez 51 vítimas fatais em Areia Branca

*Por Francisco Ventura  

Foto A Vale – O Sr. de mala preta na mão é José Rolim

Em 1918, Areia Branca, porto do mar bastante frequentado por navios de várias procedências, foi infestado por uma febre de natureza epidêmica que se alastrou rapidamente por toda a vila e município.

Em extenso telegrama datado do dia 2 de outubro de 1918, o Presidente da Intendência, Cel. Francisco Fausto de Souza, fez a seguinte comunicação ao Governador do Estado: –

OBS: O TEXTO FOI ADAPTADO: “Há dias aportaram aqui vindos diretos da Europa os vapores “Corcovado” e “Macury” trazendo a bordo quase todos tripulantes doentes. O médico Péricles Alencar examinou os doentes, e declarou ser influenza sem importância. Houve comunicação para as autoridades em terra.

Os estivadores que trabalharam nos navios, dias depois regressaram à terra atacados pela moléstia. O médico fez desinfecção no vapor “Corcovado”, sendo que o “Macury”, seguiu viajem para Recife.

Todas as pessoas que foram à bordo, principalmente os estivadores, voltaram doentes e alguns gravemente, com muita febre e vômitos com sangue”. O Intendente Municipal solicitou auxilio ao Governo.

Em 5 de outubro de 1918 o Cel. Fausto expediu novo telegrama ao Governador do Estado e ao Delegado de Saúde do Porto de Natal comunicando “a chegada naquele dia de um navio procedente da Itália com muitos tripulantes doentes e proibira comunicação com pessoal de terra.

O Governo autorizou a construção de isolamento por conta do Estado e outras despesas” conforme intensidade da moléstia”. O Inspetor de Saúde dos Portos telegrafou ao Delegado de Policia explicando que a “doença trazida pelos vapores da Europa é gripe ou Influenza espanhola, e que fica proibição visita a navios”.

Em 9 de outubro de 1918, o Intendente Francisco Fausto informa ao Governador que a “moléstia continua alastrando-se com intensidade”. Foi designado o Intendente Artur Paula para ir a Mossoró contratar um médico e um prático de farmácia para ajudar o farmacêutico local Jose Rolim.

Foi contratado o Dr. Jerônimo Rosado Filho que prestou relevantes serviços na extinção da peste. Em 11 de outubro, Francisco Fausto informa ao Governador que a “moléstia alastra-se com excessiva rapidez e já excedem de 200 pessoas. Dois casos fatais”. Acrescentando “chegou ontem Dr. Rosado Filho que já medicou grande número doentes. ”

Em 16.10.1918 Fausto informa: – “Que a epidemia continua gravíssima na Vila, contando 500 doentes e mais de 20 casos fatais”. Curioso é que em meio de tantas preocupações, o Cel. Fausto recebe telegrama de Macau, seguinte: – “Presidente Intendência Areia Branca – Favor fazer público policia sanitária aqui não consentirá desembarque doentes influenza. Saudações. Valentim Almeida. – Presidente Intendência.

No dia 11.10.1918 o Presidente do Conselho Escolar telegrafa mandando fechar Grupo Escolar e demais escolas, medida que foi tomada em todo o País! Em 29 de outubro, Francisco Fausto comunica ao Governador que a epidemia está declinando bastante graças a atuação médica do Dr. Rosado Filho.

E, finalmente em 14.11.1918 Francisco Fausto telegrafa ao Governador: – “Epidemia vila Areia Branca extinta.

“Em Grossos e outras localidades do município, a epidemia se alastra. Com muitos doentes”.

A Intendência Municipal despendeu para debelar a epidemia a quantia de 11.493$830. O Estado contribuiu com 4.603$000 sendo 3.000$000 em dinheiro e 1.603$000 em medicamento. O Dr. José da Cruz Cordeiro industrial salineiro no município fez a doação espontânea de 1.000$000. Faleceram 51 pessoas de ambos os sexos e cerca de 500 contaminados.

OBS: Em Natal, com população de 30 mil habitantes, particularmente, o número de infectados foi alarmante. Para se ter uma idéia, só o posto de socorro do Alecrim, atendeu de 15/11 a 15/12/1918, 10.814 pessoas. A em epidemia levou a óbitos 187 pessoas.

A REPÚBLICA, Natal – 14. Outubro de 1918 a 21 de Março de 1919.

FONTE: “Minhas Memórias de Areia Branca”, do historiador Luiz Fausto de Medeiros.

Post publicado pelo historiador areia-branquense Francisco Ventura.

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