segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A origem do povo sertanejo

Por Marcos Pinto


Em 1748 o renomado genealogista Antônio José Vitoriano da Fonseca (Borges da Fonseca), autor da famosa “Nobiliarquia Pernambucana”, afirmava que os “portugueses são mais amigos de adquirirem glória pelo braço do que pela pena”. Esta assertiva encontra guarida quanto aos portugueses que povoaram estes sertões, posto que raríssimos são os manuscritos deixado como legado histórico. 

Na tríade oestana (Martins-Portalegre-Apody) o português concretizou o elemento de penetração decisiva e constituiu por toda parte família, desenvolvendo sociedade. No aspecto econômico, ocuparam o primeiro plano na exploração de terras férteis. Numa análise acurada, observamos que as primeiras famílias fidalgas de sangue e espada manifestaram a tendência de procurar o quanto possível uniões com famílias semelhantes, formando-se clãs poderosos. Com os entrelaçamentos familiares endogâmicos (entre parentes), de preferência de pessoas que traziam um brasão e maneira nobres, criaram-se atitudes altaneiras, ufanistas, fruto do preconceito de casta. 

Cruzando-se dados genealógicos, depara-se com a evidência de que estas terras oestanas só foram concedidas a estes portugueses (conhecidos como reinós), por serem parentes próximos dos primeiros governos da Capitania, como também porque se impunham pelos seus próprios recursos, dando princípio aos feudos que se tornaram tradicionais no Oeste: os Pinto (do Apody), os Gomes de Amorim (de Martins), Os Paiva (Portalegre), os Fernandes (Pau dos Ferros), os Moura(Patu), os Gurgel (Caraúbas – Felipe Guerra). 

Continuando o ciclo do povoamento, encontramos o português Sebastião Machado de Aguiar, fundador de São Sebastião (atual Governador Dix-Sept Rosado), procurando manter a nobreza, casando-se com D. Catharina de Amorim de Oliveira, filha do patriarca José Martins de Oliveira (2º deste nome) e D. Maria Gomes D’Amoim, sendo Catharina irmã inteira do Capitão Antônio Pereira Gondim. Observe-se o entrelaçamento de Sebastião Machado com uma filha de um dos primeiros povoadores da Serra do Martins. 

Dada a proximidade com Mossoró, encontramos concentrações patriarcais na antiga São Sebastião, destacando-se ainda a figura do Alferes Antônio de Morais Bezerra, um dos fundadores daquela urbe, tendo casado em primeiras núpcias com D. Maria José da Cunha. Casou-se em segundas núpcias com D. Maria José de Assumpção. É o tronco de numerosas famílias, dente as quais destacam-se: Ventura de Morais, Morais Bezerra, Costa Morais, Morais Correia, Morais Calheiros, Morais Brito, Morais de Macedo, Valentim de Morais, Valentim de Macedo, Morais de Paiva, Neves Mello, etc. 

A numerosíssima família Silveira (de Gov. Dix-Sept) tem a sua origem no Tenente Domingos da Silveira (filho do patriarca martinense José Martins de Oliveira e D. Catharina Gomes D’Amorim), casado com D. Francisca de Jesus Maria. 

Um neto de Domingos da Silveira, por nome Carlos Magno da Silveira, foi até Minas Gerais montado em seu cavalo russo “Vira Mundo” e chegaram vivos aos pagos de São Sebastião. Uma filha deste patriarca, de nome Joana Gomes, casou-se com um Cambôa, Sr. José de Góis Nogueira, tronco dos Nogueira da Silveira. A mesma Joana casou-se em segundas núpcias com José Freire de Oliveira, tronco dos Freire e Freire da Silveira, do Apody. A povoação inicial de Gov. Dix-Sept Rosado teve a decisiva participação do português Alexandre Neto de Freitas Costa, natural da cidade de Guimarães, tendo se casado no Rio Grande do Norte com a Sra. Anna da Rocha. É o tronco das famílias Freitas Costa, Nogueira da Costa, Rocha Nogueira, Nogueira de Freitas, etc. 

O eminente historiador/folclorista Câmara Cascudo afirma que os portugueses aqui chegaram vindos de Pernambuco. De lá vinham os comboeiros tangendo gado e fincando nos taboleiros os sinas de sua posse. 

Outro patriarca, progenitor de muitas famílias oestanas, reside na pessoa do Capitão Leandro Bezerra Cavalcante (o fundador de Caraúbas-RN), natural do Cabo-PE. Casou-se este com Anna de Souza Vasconselos, filha do português Francisco de Souza Falcão, que também veio do Cabo até Caraúbas, onde fixou-se com a prole. É o tronco da família “Cachoeira”, e progenitor dos muitos Cavalcantis, Holanda Cavalcanti, Bezerra e Marinhos da região oeste. Houve época, em Pernambuco, que se dizia “que quem não era Cavalcanti era cavalgado”, manifestando-se assim a prepotência familiar dos que por muito tempo detiveram o domínio sobre engenhos e vilas. Afirmam os historiadores que os Cavalcantis têm raízes fidalgas, fincadas na Itália. 

Nos rincões e chá da Serra de Patu tivemos o patriarca Capitão-Mor Geraldo Saraiva de Moura, casado em primeiras núpcias com Dona Micaela Arcângela da Cruz, e em segundas núpcias com D. Rita Maria de Jesus. Esse patriarca é o genitor do herói do movimento republicano de 1817 (em Portalegre), Sr. David Leopoldo Targino. Tronco das famílias Bandeira de Moura, Leão de Moura, Saraiva Leão, Saraiva de Moura, Jácome de Moura, Chaves Melo, Álvares Afonso. Em 1729 o Capitão Geraldo Moura (falecido em 1808) passou a escritura de doação de um pedaço de terra para o patrimônio de Nossa Senhora das Dores no lugar Patu de dentro. O abolicionista Almino Afonso era bisneto deste patriarca. 

FONTE DE PESQUISA: Vingt-um Rosado “in” “Um Apodiense nas Minas Gerais e Outros Estudos”. Marcos Filgueira – “Velhos Inventários do Oeste Potiguar”. Petronilo Hemetério Filho – “História de Patu”. 

Marcos Pinto – historiador e advogado.

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